Popularizado mundialmente durante a década de 1990, o conceito de inteligência emocional se relaciona à capacidade de cada pessoa reconhecer e avaliar sentimentos – seus e das pessoas ao redor. Assim é possível trabalhar a automotivação, controlar impulsos e ter mais foco em suas atividades e projetos, sem se deixar abater pelos obstáculos que apareçam no caminho. Com o objetivo de disseminar a ideia de inteligência emocional na comunidade de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, o empreendedor Eduardo Fernandes decidiu criar o Instituto Transformando Vidas, por meio do qual ele leva esse conhecimento às camadas mais vulneráveis da população.

O caminho para chegar nesse ponto, contudo, foi difícil – o que acabou fornecendo uma valiosa experiência de vida para que Fernandes pudesse se tornar um palestrante voltado ao tema da inteligência emocional. Ele conviveu desde a infância com um ambiente desafiador, permeado pela violência das periferias paulistanas. “Quando eu tinha de quatro para cinco anos, fomos viver no Valo Velho, no extremo sul do bairro do Capão Redondo, que na época era uma região bem barra-pesada”, conta. Mesmo assim, ele já mostrava disposição de empreender – e, aos 12 anos, vendia gelinhos pelas ruas.

Aos poucos, outras alternativas de negócios foram surgindo: após trabalhar um tempo em uma locadora de DVDs, Fernandes decidiu abrir a sua própria. Outros empreendimentos surgiram, como uma pastelaria e uma pizzaria. “E eu ainda era menor de idade. Aos 16 anos eu já tinha uma loja.”

No entanto, o ambiente acabou levando Fernandes a enveredar pelo caminho errado, o que lhe valeu um período de internação na antiga Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor (Febem), atual Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Fundação Casa-SP). “Foi uma experiência que me fez enxergar coisas que eu não enxergava antes. Saber que o que vale a pena é a família, que está sempre com a gente. Saindo de lá continuei empreendendo, montando negócios de insulfilmes para carros, loja de roupas e uma balada. Aí eu quebrei financeiramente”, afirma.

Ponto de virada

Ao chegar nesse ponto de sua jornada, Fernandes estava sem opções de negócios. Até que um amigo, que já atuava na comunidade de Paraisópolis, disse que aquela região oferecia várias oportunidades para empreendimentos. Assim, Fernandes e sua esposa Márcia foram para lá e abriram uma mini adega. “E começamos a tocar o negócio por lá – afinal, não tínhamos para onde correr. Erámos eu, a Márcia, nosso cachorro, um colchão, um freezer e as bebidas”, lembra. Esse negócio foi um verdadeiro recomeço: no primeiro mês de funcionamento, a mini adega estava aberta 24 horas por dia. “Vimos que a iniciativa deu certo e continuamos. Mais para frente ampliamos a adega e a transformamos em uma distribuidora – que logo teria quatro lojas.”

O empreendimento era bem-sucedido, mas o casal praticamente não saia da adega, mesmo tendo condições de contratar funcionários. “Chegou um momento em que eu me senti travado. Não conseguia expandir o negócio. Aí pensei: e se aprendesse a ser palestrante? Pesquisei na internet e vi que haveria uma sessão para treinamento voltada a pequenos empresários na avenida Paulista, no dia seguinte. Fui para lá todo empolgado.” Segundo Fernandes, o palestrante daquela ocasião, André Menezes, tinha uma abordagem que utilizava conceitos de inteligência emocional. “Eu enxerguei o meu passado, presente e futuro no meio empresarial – e também na esfera familiar. Ele abriu meu ângulo de visão.”

Três meses depois, Fernandes participaria do curso de imersão de Menezes, e já faria networking com os demais participantes. “Eu nem sabia o que era networking. Estava lá travadão, não conseguia chegar para falar com as pessoas. Até que uma moça chegou e puxou conversa, ouviu minha história e me indicou um especialista em treinar palestrantes, o Marcelo Lyouman. Foi no seminário dele, o Poder Sem Limites, onde aprendi o que era a inteligência emocional e entendi melhor as barreiras que me impediam de crescer.”

Mudança de atitude

A partir daí, Fernandes continuou com seu negócio no ramo de bebidas e conveniência, que atualmente conta com uma equipe de cerca de 50 colaboradores. Mas sua verdadeira missão ficou mais clara: levar os conceitos que aprendeu sobre inteligência emocional e autodesenvolvimento para a comunidade de Paraisópolis, a fim de mostrar às pessoas de lá novos horizontes, possibilitando que se libertassem de visões limitantes.

“Não irei deixar de empreender no meio empresarial, mas minha dedicação hoje é em cima do desenvolvimento humano voltado para a inteligência emocional. A barreira que eu tinha é a mesma que eu vejo nas pessoas de Paraisópolis, da periferia. Aí veio a ideia de criar o Instituto Transformando Vidas, a fim de que essas pessoas tenham acesso a essas ferramentas de desenvolvimento humano.”

Por meio do instituto, Fernandes dá palestras, compartilhando os conhecimentos que recebeu, e promove treinamentos para poder destravar ideias que limitam o crescimento pessoal, aborda feridas emocionais e ressignifica o passado dos participantes. “Descobri a inteligência emocional por um acaso; seria injusto esperar que outras pessoas tivessem essa sorte. Por essa razão quero contribuir, levando essas ferramentas de desenvolvimento humano para a vida das pessoas, lá de Paraisópolis. Consegui me desenvolver, consegui progredir; agora quero que os outros também possam”, afirma, ressaltando que nunca ouviu falar de uma iniciativa semelhante em uma comunidade periférica.” Acredito que seja a primeira do Brasil”, afirma.

Em entrevista ao IstoÉ Sua História, Eduardo Fernandes fala sobre de seus empreendimentos, de sua trajetória de superação de desafios e de seu trabalho em expandir os horizontes da comunidade de Paraisópolis. Confira o papo na íntegra:

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