19/09/2024 - 11:45
A advogada e escritora Margareth Zanardini, de 67 anos, descobriu sua vocação para questionar leis ainda na infância. Filha de um jornalista e uma enfermeira, a profissional sentiu o impacto causado em sua vida após a separação dos pais. Por conta dessa vivência, decidiu cursar Direito e se especializar em Direito de Família e Sucessões. No meio jurídico e nas redes sociais, tem destaque como advogada combativa e por carregar icônicas pedras. Com 43 anos de carreira, ela demonstra sua experiência ao aconselhar leitores na “Carta Aos Jovens Advogados”, obra da qual participou, e, como autora, nos livros “Armas Básicas Para Advogados Combativos” e “Os Danos Do Amor”. Assim, aborda temas de interesse nacional propondo, inclusive, alteração da nomenclatura de “namoro qualificado”.
Natural de Curitiba, no Paraná, Margareth sentiu pulsar a veia combativa aos nove anos, após a separação de seus pais. Filha de um jornalista e radialista do jornal Gazeta do Povo e de uma enfermeira, na mesma época, ela teve que se mudar com o irmão mais novo para a propriedade dos avós.
Na ocasião, enquanto os demais netos moravam na casa, os dois dormiam em um paiol (armazém de ferramentas) de madeira, com uma placa branca na entrada com a palavra “escritório” escrita em vermelho. A experiência “maternal com o irmão” é citada em uma de suas obras literárias, na qual narra, entre outros tópicos, alguns desafios de sua trajetória. “Saí do escritório do paiol para meu escritório atual, no Parque Barigui, uma zona nobre da cidade”, descreve, sobre a guinada na vida após a infância no armazém de ferramentas sem banheiro.
Ainda jovem, discutia e questionava leis, como o sobrenome da mãe ser o mesmo do ex-marido, por exemplo. “Uma vez, perguntei para meu pai: ‘Por que a mãe tem seu sobrenome?’ Ele respondeu: ‘Porque ela casou comigo’. Achei um absurdo. ‘Ela não tinha o nome dela? Por que tem que usar o seu?”, exemplifica, sobre o direito da pessoa decidir pelo sobrenome do cônjuge ter sido conquistado, no Brasil, apenas após a Lei do Divórcio (1977).
A origem da regra antiga, afirma Margareth, foi concebida no período patriarcal, da agricultura, em que se marcava o gado e, da mesma forma, a mulher e os filhos por meio do sobrenome. “Muito machista”, opina, com leveza na fala. “Hoje, o homem pode usar também o sobrenome da mulher se quiser”, complementa, citando os direitos iguais para ambos os gêneros obtidos na Constituição de 1988.
Universitária nerd, competitiva e antipática
A contribuição paterna também se deu na época em que Margareth cursou a faculdade Pontifícia Universidade Católica (PUC-PR), onde a universitária se esforçou para ser “muito nerd”, nunca indo a bares com os outros alunos e sempre tirando boas notas. A cobrança paterna para estar sempre em primeiro lugar a tornou competitiva e detalhista. Até hoje, muitos colegas a consideram antipática por ser mais reservada, como ela mesma avalia.
No primeiro ano de faculdade, foi indicada pelo professor e Procurador de Justiça Rui Barbosa Corrêa Filho, também padrinho de casamento de Margareth, que é mãe de gêmeas, a estagiar com o diretor de Ciências Jurídicas na PUC-PR Dálio Zippin Filho.
Já graduada, a advogada foi “alterando o caminho” até se especializar em Vara de Família. A convivência com a mãe enfermeira e com um primo psiquiatra a levou a atuar na defesa de médicos em ações nas esferas Penal, Civil e, também, no Conselho Regional de Medicina (CRM).
Advocacia combativa
Conhecida no meio profissional e nas redes sociais como “advogada combativa”, Margareth credita o mentor de branding Arthur Bender como idealizador do termo que a qualifica. “Ele me auxiliou a usar esse termo porque, ao contrário do que alguns advogados pregam sobre tentar pacificação e tentar fazer acordo, isso nunca foi a minha praia. Fui formada para usar a legislação. Não sou psicóloga nem mediadora, embora tenha curso de mediação. A pessoa vai atrás do advogado porque quer que ele encontre soluções jurídicas”, garante.
Margareth também reforça que, apesar da existência de uma corrente de advogados do Direito Sistêmico, que faz uso da Constelação Familiar, ela discorda dessa linha por não ser terapeuta. Assim, a advogada define que foi ensinada a “usar a lei para defender os direitos dos clientes”.
Por isso, escreveu o livro “Armas Básicas Para Advogados Combativos”, que é “o mínimo que um advogado precisa saber acerca de recursos, uma forma de atuação combativa, em especial no Superior Tribunal de Justiça, onde apenas 5% dos recursos chegam por falta de técnica dos profissionais”.
As pedras simbólicas
Outra fama que Margareth mantém é de carregar pedras, literalmente. Isso porque, quando estagiou, os processos eram físicos, em papel, e o transporte para outras cidades era feito de ônibus. “Para o envio, não havendo peso suficiente, ajudava (a atingir o peso) colocando pedras ou tijolos”, lembra ela, que, anos depois, teve um imprevisto durante uma viagem.
“Sempre carreguei comigo minhas pedrinhas, que ficaram icônicas, e, uma vez, as despachei na mala para levar ao lançamento do meu segundo livro. No aeroporto, a caminho de São Paulo, fui parada e tiraram minha pedra porque acharam sei lá o quê”, diverte-se ela, que, após o episódio, solicitou réplicas plásticas para facilitar o transporte.
‘Os Danos Do Amor’ e a alteração do termo ‘namoro qualificado’
Homenageada por sua atuação e artigos como jornalista colaboradora nos anais da Câmara Municipal de Curitiba e na Assembleia Legislativa do Estado do Paraná, a advogada já foi presidente da Associação das Mulheres de Carreira Jurídica – Seção Paraná e da Comissão de Justiça do Conselho Estadual do Paraná.
Dos dois livros que escreveu, é em “Os Danos Do Amor” que ela propõe alteração de nomenclatura e sugere que a jurisprudência nacional deixe de usar o termo “namoro qualificado” quando uma das partes não tem intenção de constituir família. Para a especialista, nesse caso, o relacionamento é uma “espécie de união estável, que não é”. Por esse motivo, Margareth propõe a utilização de novos termos para o referido namoro, que pode ser “singular”, “diferenciado” ou “não intencional”.
Jovem há mais tempo
Após a pandemia de Covid-19, em 2020, Margareth sentiu a necessidade de atuar à distância e fez mais de 66 cursos para se atualizar no mundo digital. Na maioria dos cursos, é chamada de “vovó”, mas se enxerga como “jovem há mais tempo”. “Tenho quase meio século de atuação, mas com energia de recém-formada”, aponta.
A respeito do comportamento da nova geração, inclusive, ela menciona algumas dificuldades de adaptação a suas exigências. “A cultura do meu escritório é falar a verdade e saber a postura de um profissional. Nada de colocar na rede social ‘sextou’. É preciso ter o palavreado e se trajar adequadamente. Não sou eu que quero, é a nossa profissão que exige. No hospital e no aeroporto, é a mesma coisa. Advogado se veste como advogado”, opina.
Um conselho dado pela doutora aos mais jovens é a dedicação aos estudos e a humildade. Segundo Margareth, é impossível não ter resultado após trabalhar corretamente. “Claro que é pedrinha sobre pedrinha e não vai acontecer miraculosamente”, reforça ela, que está prestes a ampliar as atividades do escritório com o departamento de Direito do Trabalho. Para isso, a veterana aguarda apenas seu atual estrategista, Arthur Vecchi Zarpellon, passar na segunda fase da OAB.
Outras dicas da veterana são: ter humildade para admitir o que não pode fazer e honestidade para alcançar os objetivos. “O cliente só me contrata depois que assina meu Manual do Cliente, que diz como funciona o escritório e o que pode esperar. Não é obrigação de resultado, mas de meios. Posso usar todo meu conhecimento técnico, mas pode ser que a pessoa não ganhe o processo”, conclui Margareth, ressaltando que, na Justiça, não ganha quem tem razão, mas quem tem provas. “E as provas devem ser trazidas pelo cliente”, finaliza.
Em entrevista ao IstoÉ Sua História, a advogada e escritora Margareth Zanardini narra detalhes da trajetória profissional e destaca a importância de seus livros. Confira a conversa na íntegra:
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