Cleber Marques é um dos maiores colecionadores de revistas sobre videogames do Brasil. O seu acervo ultrapassa a marca de três mil e cem publicações impressas e reúne exemplares de edições especiais com mais de 40 anos desde os lançamentos.

Entusiasta dos jogos eletrônicos, Cleber se interessou pela prática de colecionismo ainda menino, por influência do seu pai que frequentava semanalmente os sebos na cidade. A atividade ao lado da figura paterna deixou marcas na memória e no coração do colecionador, que hoje recorda com saudosismo esses momentos. 

“Meu pai gostava de colecionar gibis e eu fui na onda dele e era muito divertido, porque a gente chegava nos sebos e encontrava de tudo, era um mundo ali. Além de ser tudo muito grande e em grande quantidade, lembro exatamente das várias revistas empilhadas”, conta Cleber.

Dentro das páginas, o colecionador encontrou assuntos que instigavam ainda mais a sua curiosidade em relação aos videogames. “Nos anos 1980, o que a gente tinha de tecnologia em casa era muito limitado, então mover algo na tela da tv usando um controle era mágico,” descreve Cleber antes de afirmar que “naquela época, muitas pessoas não tinham videogame em casa e a revista era o que existia de mais  democrático em relação a isso.”

Antes de ganhar o primeiro videogame,  um Odyssey – aparelho lançado pela Philips que chegou ao Brasil em maio de 1983, o colecionador jogava através de consoles emprestados. “Meu pai era o único técnico em eletrônica da nossa cidade, então todo mundo levava os aparelhos para ele arrumar e por uma ou duas semanas eu testava os consertos.” 

Cleber relembra a alegria que era jogar ‘Didi na Mina Encantada’, um dos primeiros jogos inspirados em personalidades brasileiras da época. Com o controle composto por um único botão vermelho de ação somado a um joystick com oito opções de movimentos, ele se divertia. “Eu conseguia enxergar o Didi Mocó, o famoso trapalhão, na tela da TV, mesma a imagem da label sendo totalmente diferente do vídeo, mas para uma criança aquelas cenas eram mágicas”, descreve ele.  

Fã dos gráficos, sons e movimentos, o colecionador não só acompanhou a evolução dos consoles como também seguiu comprando cada nova edição das revistas brasileiras sobre jogos que saíam nas bancas de jornais. “Gostava demais daquela sensação de estar conhecendo algo novo e de ficar por dentro dos lançamentos”, diz. 

Acervo impecável 

Hoje, quase 40 anos depois, Cleber mantém as mais de três mil revistas expostas na estante do seu escritório e consulta o material sempre que precisa de alguma informação para o trabalho.  

Todas as edições estão conservadas e sem nenhuma rasura, itens importantes para o colecionador que guarda desde a primeira revista, comprada nos anos 1980: “Eu brinco que isso é um trauma, porque quando eu ia com o meu pai aos sebos, ele sempre dizia que se eu rasgasse ou rasurasse alguma página, ele não compraria mais nenhuma, então passei a cuidar muito bem de cada edição. ”

Cleber também revela que não compartilha a coleção com muitas pessoas e escolhe a dedo quem pode visitar o espaço: “Tenho um ciúmes ‘danado’, as pessoas me procuram para gravar o acervo, eu brinco e até desconverso, poucas pessoas foram de fato lá.”

A história por trás dos jogos eletrônicos

O fascínio pelos jogos eletrônicos não só impactou a infância e a adolescência de Cleber, como também influenciou a escolha da sua profissão. Formado em Tecnologia da Informação, com pós-graduação e MBA na área, o colecionador conta que trabalhou em multinacionais e empresas de destaque no segmento.    

“O sonho de quem gostava de videogame quando criança era trabalhar com o computador. E foram anos prestando serviços para o mundo corporativo e que me abriu muitas portas”, garante Cleber.   

Mas enquanto seguia na profissão, o colecionador não deixava de acompanhar o mercado impresso brasileiro sobre videogames. Nos anos 2000, ele percebeu uma queda acentuada no número de tiragens de conteúdos de jogos eletrônicos em bancas de jornais. “Comecei a pensar que poderíamos perder toda a história por trás dos videogames e isso me deixou realmente apreensivo.”

Motivado a transformar esse cenário, Cleber decidiu dar um passo na contramão do mercado impresso e em 2015 criou a primeira editora independente de videogames do Brasil, a WarpZone. No início, o colecionador veiculava apenas um fanzine de quatro páginas a cada dois meses, mas o sucesso quase imediato impulsionou ele a expandir a marca. 

“Já nos primeiros meses de 2016, ainda com uma outra editora de livros, a impressão dos fanzines da WarpZone chegou a 40 mil exemplares, cerca de 400 páginas por mês sendo distribuídas em todas as bancas do Brasil”, afirma Cleber. 

A marca WarpZone 

O interesse e a rápida aceitação do público impressionaram o colecionador, que logo formou uma equipe ainda mais criativa para escrever novos modelos de publicação. “Ganhamos muito mercado e muita gente passou a comprar os nossos produtos,  o que nos fez lançar quatro séries de livros sobre videogames – um grande sucesso.” 

Um ano depois, em 2017, Cleber lançou o primeiro livro de luxo da marca WarpZone, financiado através de uma campanha coletiva e vendido via internet ou durante eventos presenciais. “Os primeiros apoiadores acreditaram no nosso trabalho e nós entregamos um exemplar de altíssima qualidade para eles, a base de um jornalismo que eu chamo de arqueológico” frisa o colecionador antes de destacar “hoje estamos na nossa sexta campanha coletiva e ainda temos o apoio dos primeiros clientes, ou seja, fidelizamos essas pessoas através do nosso empenho de fazer sempre o melhor.”

Com mais de 60 livros publicados, a WarpZone segue inovando e atraindo a admiração do público em quase 10 anos de fundação. Reflexos do trabalho em equipe, e claro, da dedicação de Cleber – que revela uma novidade para 2025. 

“A WarpZone surgiu com o intuito de registrar a história dos videogames no Brasil e nos últimos meses, estamos trabalhando em um documentário em parceria com a produtora ZeroQuatroMídia, que será lançado no primeiro semestre do ano que vem em mídia física e estamos negociando com uma plataforma de streaming”, detalha Cleber.

O documentário é o primeiro projeto audiovisual da WarpZone financiado com apoio coletivo. “Meu público é apaixonado, assim como eu sou por videogames, eles investiram na ideia e agora estamos finalizando esse processo e editando as mais 30 entrevistas em um único conteúdo extremamente interessante”, diz.

Cleber conta que o seu acervo foi usado como fonte de pesquisa para a construção da obra. “Confesso que comecei a colecionar as revistas pelo simples fato de gostar de videogame, porque eu era uma criança entrando na pré-adolescência, mas quando eu me tornei um adulto a minha intenção era clara: manter um registro jornalístico do mercado de videogame no Brasil.”

Mas ‘A História das Revistas de Videogames do Brasil’ não vai parar só na tela da tv. Segundo Cleber, um novo livro será lançado como complemento do documentário. “Os nossos leitores pediram e nós ouvimos, afinal, nem tudo é possível abordar em um vídeo, então já estamos estruturando o livro ‘Essencial Revistas de Videogame’.

Muito além das páginas

Somando mais de 350 mil seguidores nas redes sociais, a WarpZone se tornou um canal de informações para os fãs de jogos eletrônicos retrôs.  Com notícias, podcasts e vídeos interativos, a plataforma recebe um alto número de acessos diariamente. “Com o tempo, eu percebi que fora do Brasil muitos assuntos são notícias e aqui eles acabam virando publicidades, desta forma, entendi que o segredo era trabalhar com as nossas próprias redes sociais”, descreve Cleber. 

Da mídia física ao conteúdo online, a WarpZone atrai o interesse de diferentes públicos, no entanto, o colecionador evidencia a preferência das pessoas com mais de 35 anos. “São elas que viveram a fase dos videogames de fita, de cd e mais do que isso construíram memórias afetivas desses momentos.” 

Vamos na RetroCon 2024?

Outro produto que tem o selo WarpZone é a RetroCon, um evento presencial que promove a experiência nostálgica dos anos 1990, feito exclusivamente para incentivar o público a se encontrar e jogar fliperamas e videogames. “Na nossa primeira edição, em 2023, conseguimos conectar 20 TVs de tubos em videogames antigos e foi muito divertido. A nossa expectativa para esse ano é receber 10 mil pessoas.”

Além da sessão de jogos, a Retrocon conta com uma feira de expositores e com a participação de influenciadores da área. “É um evento muito família, com a presença de mães, pais e filhos. É realmente uma experiência nostálgica e viva”, afirma o colecionador.

Esse ano, a RetroCon acontece nos dias 3 e 4 de agosto, das 10h às 19h, na Av. Profa. Ida Kolb, 513, Jardim das Laranjeiras, em São Paulo. Os interessados em participar podem acessar o site www.retrocon.com.br e garantir o ingresso.  

Cleber destaca que o evento é a realização de um sonho que surgiu durante uma conversa com mais dois amigos. “A Retrocon hoje é mantida por três marcas, a WarpZone, a Casa do Videogame e a Mr. Games e nós sabemos o valor desta conquista, mesmo sendo um grande desafio, somos muito felizes.”

Quer saber mais sobre a WarpZone? ou do Cleber Marques? Acesse as redes sociais @warpzoneme ou o site www.warpzone.me

Em entrevista a IstoÉ Sua História, Cleber Marques contou como começou a colecionar revistas sobre videogames e o porquê decidiu criar a WarpZone. Confira a conversa completa:

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