A princípio, Luxemburgo e Porto Seguro não têm nada em comum. O pequeno país europeu tem cerca de 670 mil habitantes, e se destaca pelo seu setor financeiro. Já a cidade do litoral sul da Bahia se apresenta como um recanto paradisíaco, que atrai turistas do mundo inteiro. No entanto, os dois locais têm em comum o fato de serem locais cosmopolitas, para os quais vão pessoas de diferentes origens. E ambos se inscrevem na trajetória do empreendedor Luigi Rotunno, CEO e fundador do Grupo La Torre – cuja trajetória serve hoje como inspiração para os jovens de Porto Seguro.

Filho de pais italianos, Rotunno nasceu em Luxemburgo, e sempre se interessou em administrar seus próprios negócios. “Sempre gostei de empreender, e desde cedo iniciei uma sociedade com alguns amigos. Foi assim que me lancei nesse mundo do empreendedorismo”, afirma. Após seis anos nos quais chegou a abrir cinco restaurantes em Luxemburgo, era hora de tirar férias – e o Brasil se tornava uma opção bastante atraente. A primeira coisa que Rotunno fez ao chegar ao aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP), foi procurar uma praia – e assim acabou chegando à Bahia. 

Seu encontro com Porto Seguro foi um ponto decisivo na carreira empreendedora de Rotunno. Ele se apaixonou à primeira vista pelo local: “Passei 15 dias lá, e voltei para a Europa. Mas o Brasil não saía de minha cabeça; e dois meses depois desembarquei novamente em Guarulhos, mas dessa vez aluguei um carro e rodei toda a costa brasileira, até Natal (RN). Parei em todos os lugares, mas Porto Seguro era o que mais me atraía”.

Voos fretados

Rotunno não se conformava que, na época, Porto Seguro era um destino turístico completamente desconhecido no exterior. Foi aí que surgiu a ideia de promover esse destino no mercado europeu. “Já havia um aeroporto internacional em Porto Seguro naquela época, mas ele nunca havia recebido aeronaves da Europa ou dos EUA. Assim, voltei à Europa para buscar viabilizar rotas aéreas. Tentei a França, a Alemanha, mas consegui em Portugal”, conta. Dessa forma, o primeiro voo fretado promovido por Rotunno para Porto Seguro saiu do Velho Mundo em maio de 2001. Logo em seguida viria um voo de Amsterdã (Países Baixos).

“Durante três anos consecutivos atingimos uma média de 56 voos por ano, trabalhando com duas das maiores operadoras de turismo aéreo do mundo – a TUI e a Thomas Cook. E isso transformou completamente Porto Seguro, ao possibilitar a chegada de turistas norte-europeus com maior poder aquisitivo. E na época o Brasil era um destino muito barato, graças à taxa de câmbio. Nisso, os europeus descobriram que o país também era bastante interessante como destino de investimentos”, afirma, acrescentando que datam dessa época as primeiras aquisições de hotéis, pousadas e terrenos na região por parte de investidores estrangeiros. Um exemplo desse movimento foi a abertura do Club Mediterranée (atualmente chamado Club Med) em Trancoso, um distrito de Porto Seguro. 

O empreendedor guarda ótimas lembranças dessa época. “Eu tenho um certo orgulho de ter colocado Porto Seguro no mapa. Quando voltava à Europa, ia a um aeroporto, como o Charles de Gaulle em Paris, e via o destino ‘Porto Seguro, Brasil’ nos painéis de partidas, eu sentia uma emoção muito grande. E não foi fácil abrir uma rota internacional – era necessário liberar com várias autoridades. Foi muito gratificante”, resume. A partir desse ponto, Rotunno estaria preparado para a segunda etapa de sua trajetória como empreendedor no Brasil, voltada à área de hotelaria.

Origem acidental

Fundado e controlado por Rotunno, o Resort La Torre All Inclusive, que é a “joia da coroa” do Grupo La Torre, oferece uma série de experiências aos seus hóspedes, que podem desfrutar das belezas da praia do Mutá. Sua origem não partiu de uma análise do potencial de um empreendimento dessa natureza no local, mas de um acaso. “Eu não havia planejado entrar no ramo de hotelaria naquela época. Mas ocorreu que um dos meus clientes era um pequeno apart-hotel chamado La Torre, que foi fechado. Só que eu já havia comercializado esse hotel para os passageiros de meus voos pelos próximos três meses. E não haviam outras opções de hospedagem”, lembra. Em contato com o dono do La Torre, Rotunno recebeu a proposta de administrar o hotel a fim de que continuasse funcionando: “E eu não tive escolha! Mas deu tudo certo, e a temporada foi um sucesso”.

A partir de uma boa relação com o dono do hotel, Rotunno foi assumindo o negócio, inclusive ampliando o La Torre – que, de uma área inicial de 3 mil m2, hoje conta com cerca de 110 mil m2, incluindo um condomínio de casas em seu redor. “Foi então que ele me disse que estava querendo vender sua parte para mim, e eu aceitei”, conta. E o negócio foi se expandindo, a ponto de ter passado dos 26 colaboradores iniciais para uma equipe de quase 700 pessoas, distribuídas entre as quatro unidades principais do complexo (La Torre Resort, Vila La Torre, Clube de Praia e Terra Mia) e outras atividades, que incluem a promoção de eventos e empresas de tecnologia e de comunicação. 

“Os últimos dez anos representaram um salto muito grande em nossa história. Houve, claro, o período da pandemia da Covid-19, que foi o maior desafio às empresas prestadoras de serviços. Eu tinha 498 colaboradores na época, e não demiti ninguém. Usamos nosso fundo de reserva para nos mantermos, e conseguimos atravessar esse período. Mas foi um desafio e tanto: renascemos das cinzas e aqui estamos”, afirma. Com isso, o La Torre tem sido objeto de diversos reconhecimentos do mercado – incluindo premiações sucessivas no Travellers’ Choice, concedido pelo TripAdvisor, e a conquista do certificado da organização Great Place to Work (GPTW), que avalia as empresas a partir de sua relação com os colaboradores. 

Foco no ESG

Além disso, o grupo tem levado adiante diversas ações relacionadas à adoção de critérios ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) – que incluem iniciativas voltadas à preservação do meio ambiente em escolas, ao combate ao assédio moral e sexual e à promoção do empreendedorismo feminino local, entre outras. 

“Eu me considero um empreendedor social. É uma filosofia que eu sigo muito, na qual a gente não coloca o lucro como a finalidade, mas como um meio, para poder transformar a sociedade ao redor. Mas é claro que é necessário lucrar; o lucro não é nenhum pecado, não. Eu desejo para todo mundo que se dê bem na vida. Só que o dinheiro não pode ser a única finalidade”, pondera.

Recentemente o Grupo La Torre adquiriu um pequeno shopping center, no centro de Porto Seguro, que tem o único cinema e pista de boliche da cidade. O imóvel está passando por reformas e modernizações, a fim de incorporar mais tecnologia e aumentar a experiência de seus clientes. E, ao mesmo tempo, prossegue a expansão das demais atividades do grupo – o que, segundo Rotunno, se baseia totalmente na relação positiva com os colaboradores. 

Colaboradores e comunidade

No entendimento de Rotunno, nada disso seria possível sem o comprometimento das pessoas que trabalham no Grupo La Torre.  “Para uma empresa crescer, você tem que fazer crescer as pessoas que estão em volta de você. É preciso sempre manter esse ritmo. Não adianta ter uma euforia exagerada e não dispor das pessoas que vão te dar suporte. O engajamento dos nossos colaboradores me deixa confiante de que iremos continuar com outros investimentos no futuro”, afirma, lembrando que essa relação foi reconhecida pela conquista do prêmio do GPTW. “Se você trata bem seus colaboradores, eles irão tratar bem os hóspedes”, pondera.

Outra faceta da atuação de Rotunno é a atenção voltada a iniciativas sociais na comunidade. Um exemplo disso é o apoio à Banda Marcial de Porto Seguro (Bamups), formada por crianças e jovens do complexo de bairros Baianão, e que se apresentam no resort. “É um projeto importante para nós. Os hóspedes gostam muito, e a comunidade vê seus filhos em uma atividade positiva, fora das ruas”, afirma.  Outra iniciativa nesse sentido é o apoio ao Instituto de Música e Cidadania Descobrir, também do bairro Baianão, que oferece aulas de canto, violão e teclado para a comunidade. Foi desta iniciativa que veio a cantora Késia Souza, que chegou a se apresentar no Programa do Faustão, na Rede Globo.

Em entrevista ao IstoÉ – Sua História, Luigi Rotunno compartilha sua trajetória de empreendedorismo no Brasil. Confira o papo na íntegra:

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