Silvio Barbosa da França, mais conhecido como Aritana de Oxóssi, tem em sua trajetória o exemplo de perseverança e dedicação à espiritualidade e ao próximo. Sua jornada, que começou em Salvador, na Bahia, é marcada por uma transição da fé evangélica para a Umbanda, onde encontrou seu verdadeiro chamado como sacerdote e líder religioso, além de ter se tornado jornalista e levado sua cultura para outros locais, com programas televisivos veiculados no Nordeste do País.

Natural da cidade baiana, Aritana sentia uma inquietação em sua vida desde muito cedo. O religioso era evangélico juntamente com sua mãe e, ainda adolescente, sentiu um chamado para outra religião. “Eu dizia para a minha mãe: não estou achando isso legal. E ela disse: então você fica em casa e eu vou para a igreja”, conta. Aos 15 anos, teve contato pela primeira vez com uma religião de matriz africana. “Ao fundo da minha casa havia um terreiro, da Dona Raimunda, que já se foi. Quando cheguei lá, fiquei olhando. Quando passei pela porta, todo mundo parou de tocar. E aí Dona Raimunda disse: ‘Não pare de tocar, deixe ele entrar’”, conta.

Aritana detalha que esse momento foi primordial no início de sua trajetória religiosa. “Dona Raimunda disse: ‘Quem está aí não é esse menino, quem está aí é um índio. É o cacique da tribo Cherokee. Ele é a autoridade da casa hoje. Eu fiquei todo assustado, era tudo novo para mim”, explica. Quando sua mãe soube onde Aritana estava, foi procurá-lo. “Minha mãe disse que iria me buscar debaixo de chinelo. Ela tinha um cipó de araçá e foi atrás de mim. Quando chegou na porta, entrou e viu aquele culto bonito, aquela coisa maravilhosa, e eu sentado lá. Aí ela largou o cipó e começou a chorar”, revela. Ele também conta que sua irmã, Sônia, o seguiu na religião e hoje é sacerdotisa de Umbanda como ele.

A Umbanda é uma religião brasileira que encontrou na Bahia um terreno fértil para sua expansão e desenvolvimento, depois de gerações de sincretismo religioso e resistência cultural. Desde a chegada dos africanos escravizados, suas tradições espirituais se misturaram com elementos do catolicismo e das religiões indígenas, dando origem a práticas religiosas únicas. A Bahia, com sua forte herança africana, se tornou um berço para a Umbanda, que emergiu no início do século XX como uma resposta à necessidade de uma religião brasileira, inclusiva e acessível a todos. 

Desenvolvimento na religião

Inserido em seu novo caminho espiritual, Aritana começou a ter visões e revelações sobre eventos futuros, como tsunamis e outros acontecimentos. Essas previsões, compartilhadas inicialmente com amigos e familiares, acabaram se concretizando, de acordo com seus relatos, atraindo pessoas em busca de orientação espiritual. Sua casa se tornou um ponto de encontro para aqueles que buscavam auxílio, e Aritana começou a realizar atendimentos que, na época, eram gratuitos.

Após a perda de sua mãe, Aritana passou por momentos de dificuldade, chegando a ficar em situação de rua. Ele conta que durante esse período teve um encontro marcante com um espírito indígena que lhe revelou seu nome espiritual, Aritana. “Fui morar em uma baixada, uma favela em Canabrava. Um dia, às duas da manhã, em um brejo que passava na minha porta, veio um cara grandão e me disse: ‘Seu nome vai ser Aritana. Esse é o nome da fortuna, o que você tocar, vai crescer. Todos aqueles que te procurarem, vão crescer junto com você’. Eu perguntei quem ele era, e ele disse que era o cacique Aritana’”, afirma.

A partir desse momento, Aritana decidiu se dedicar integralmente à religião. O sacerdote fundou a Associação Centro Aritana de Oxóssi, um espaço dedicado à prática da Umbanda e ao acolhimento de seus filhos de fé. Sua liderança se destaca pela preocupação com o bem-estar de seus seguidores, proporcionando a eles moradia, apoio e oportunidades de crescimento. Nos atendimentos, ele atua com previsões e qualquer auxílio que o consulente precise. O religioso afirma que já atendeu mais de 180 pessoas por dia, incluindo famosos, como cantores, atores e até mesmo políticos. Hoje, ele atende pessoas de todo o Brasil, inclusive por videochamada. 

Ampliando a voz da espiritualidade

Além de sua atuação como sacerdote, Aritana também é jornalista, tendo trabalhado em diversos programas de televisão na Bahia. Seu programa Axé com Aritana começou em 2005 e foi transmitido pela Band Bahia e TV Aratu, afiliada do SBT. O programa, semanal com duração de 1 hora, alcançou grande sucesso, levando a mensagem da Umbanda e da espiritualidade para um público amplo. O programa recebia convidados de outras religiões, além de trazer tópicos religiosos e variedades. Aritana acredita na importância da comunicação para combater a intolerância e promover o respeito à diversidade de crenças. “Religião é a sua fé. É fazer o bem. É cultuar a aceitação”, afirma. 

Um dos pilares do seu trabalho é a caridade, que envolve a distribuição de cestas básicas e trabalho dentro das comunidades da Bahia. “Na época da pandemia, compramos 2 toneladas de cestas básicas, além de álcool em gel”, diz. Aritana tem planos de expandir seu trabalho para São Paulo, onde pretende realizar ações sociais nas comunidades, oferecendo auxílio material e espiritual. Seu objetivo é criar uma rede de apoio e solidariedade, envolvendo a comunidade umbandista e todos aqueles que desejam contribuir para um mundo melhor. “Quero fazer nas comunidades de São Paulo o que foi realizado em Salvador. Esse é meu sonho, se me permitirem”, diz. “Não quero fazer esse trabalho sozinho. Quero fazer uma corrente com todos os umbandistas de São Paulo”, afirma.

O sacerdote explica que a Umbanda é uma religião na qual o trabalho de assistência e caridade são extremamente importantes. “A Umbanda é isso, é união. Não penso só em mim, eu quero o bem estar dos meus filhos, e dos meus clientes também”, salienta. “O que vale hoje é riqueza espiritual, com sua família, com seus amigos, essa é a riqueza”, diz. 

Aritana também planeja levar seu programa de televisão para o cenário nacional, disseminando a mensagem da Umbanda e da espiritualidade para todo o Brasil. Ele acredita que a riqueza espiritual é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna, e se dedica a compartilhar esse conhecimento com o maior número de pessoas possível. “Estamos vendo como será. Não sei se o nome será Axé com Aritana ou se será outro nome”, comenta. Ainda não há previsão de estreia do novo programa. 

Em entrevista para o IstoÉ Sua História, Aritana de Oxóssi dá mais detalhes sobre sua trajetória pessoal e sobre seu trabalho como sacerdote de Umbanda. Confira:

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