02/12/2024 - 11:35
O reconhecimento de uma segunda cidadania tem se mostrado como uma opção cada vez mais atraente para os brasileiros. Seja pela possibilidade de desenvolver uma atividade profissional no exterior sem as limitações de um visto de trabalho, adquirir imóveis ou outros ativos, ou mesmo passar a viver de forma definitiva fora do Brasil, são várias as possibilidades que se abrem para quem conta com esse benefício. Fundador da Terra Nostra Cidadania Italiana, Vagner Cardoso atua nesse segmento há décadas, e se especializou na oferta de serviços voltados ao reconhecimento da cidadania italiana – que é um direito legítimo de todos os descendentes de pessoas daquele país.
Cardoso conta que o caminho até a Terra Nostra teve início no descontentamento profissional que sentiu há pouco mais de 30 anos, quando trabalhava na indústria automobilística em São Caetano do Sul, no ABC Paulista. “Fiz diversos cursos especializados, mas eu nunca me encontrei nessa atividade, profissionalmente falando. Naquela época, as pessoas entravam em uma empresa e nela permaneciam por muitos anos; eu podia ver como seria minha vida dali a cinco, dez, vinte anos. E eu nunca me conformei com isso. Pedi demissão e tentei empreender na área técnica, mas não fui bem sucedido.”
A virada veio quando encontrou um colega, e ambos conversaram sobre um amigo em comum que estava morando na Itália e trabalhando como músico. “Aí me veio um estalo. Do nada, pensei em ir embora para lá também. Conversei com esse amigo, e em três meses fui à Itália, na cara e na coragem”, conta. Chegando lá, trabalhou na área de construção civil, e percebeu que havia uma diferença fundamental entre os estrangeiros que trabalhavam no país europeu por meio de vistos de trabalho, com prazos de permanência limitados, e aqueles que, por serem descendentes de italianos, tinham a possibilidade de ter dupla cidadania. Isso motivou Cardoso a pesquisar suas origens, encontrar a documentação de seu bisavô e dar entrada no processo de reconhecimento do direito de sua cidadania.
“Aprendi sozinho o ‘caminho das pedras’ para isso – na época não havia internet, nem sequer telefonia celular. Mas deu tudo certo, tanto que passei a ajudar muitos amigos e parentes a reconhecerem a cidadania italiana. Houve um boom de imigração de brasileiros para a Itália nos anos 1990. Nesse período, eu cheguei a morar por quinze anos lá. Ainda hoje viajo todo ano para lá – e consigo usufruir do sonho de ter o melhor dos dois mundos”, afirma.
Vantagens da dupla cidadania
De acordo com Cardoso, o reconhecimento da cidadania italiana permite o acesso a uma série de benefícios. “A pessoa pode empreender, pode trabalhar como um nativo do país, fazer uma faculdade, ou mesmo almejar um emprego no setor público. Tudo aquilo a que ele tem acesso no Brasil por ter nascido aqui ele pode ter também na Itália. Sem a cidadania, o brasileiro fica limitado às condições dos vistos de trabalho ou de estudos, que preveem períodos de permanência no país, e tem sempre que renovar a documentação”, salienta. Além disso, acrescenta, há a categoria dos imigrantes ilegais, que entram no país como turistas e acabam encontrando oportunidades apenas em empregos de baixa qualidade. “Por essas razões, ter a cidadania é fundamental”, salienta, lembrando que a pessoa passa a ter livre acesso não apenas à Itália, mas também aos demais países da União Europeia.
Um outro ponto destacado por Cardoso tem a ver com a reconexão das pessoas com suas origens europeias. “Além dos direitos que a cidadania italiana garante, há a questão de honrar os antepassados e continuar a história deles. Eles vieram ao Brasil por livre e espontânea vontade, mas se a situação lá na época fosse boa, eu tenho certeza de que eles prefeririam continuar na Itália. Então, os descendentes estão hoje aqui no Brasil por uma circunstância, mas carregam esse DNA. Para algumas famílias, que acabam voltando para o solo italiano depois de gerações vivendo aqui, a passagem pelo Brasil torna-se um episódio na história da família. Essa volta às origens vai muito além da obtenção de um passaporte”, pondera.
Surge a Terra Nostra
No final dos anos 1990, os brasileiros tiveram um gosto do que foi a imigração italiana por meio da novela Terra Nostra, de Benedito Ruy Barbosa, exibida pela rede Globo. Esse mesmo nome acabou inspirando Cardoso a finalmente empregar o conhecimento adquirido em torno dos meandros para o reconhecimento da cidadania italiana na criação de uma empresa própria.
“Eu já atuava, ainda que a caráter informal, nessa área. Mas a procura começou a aumentar, e eu percebi que lá havia a possibilidade de um negócio, que permitiria que eu trabalhasse com a Itália, que é um país que eu amo de paixão. Foi assim que eu resolvi trabalhar de forma profissional, e aí nasceu a Terra Nostra, em 2000. E, de lá para cá, nunca tivemos um período de baixa demanda; todo ano a procura aumenta”, conta. Mesmo a pandemia da Covid-19, que levou as pessoas ao isolamento social, não interrompeu essa trajetória. “Estávamos preparados para um período de baixa, mas foi quando nós registramos o maior crescimento da empresa.”
Cardoso conta que a Terra Nostra trabalha não só com clientes de São Paulo, mas de todo o Brasil – e inclusive de outros países. A empresa tem um escritório em Orlando, nos Estados Unidos, por meio do qual atende tanto aos brasileiros que residem lá quanto aos ítalo-americanos interessados em reconhecer uma segunda cidadania. E o público, segundo ele, é bastante variado. “Antes tínhamos o profissional liberal, com mais de 40 anos de idade. Mas mudou muito com o tempo. Hoje atendemos estudantes com 20 anos de idade, interessados em prosseguir seus estudos em outros países.”
O processo da cidadania
Cardoso conta que existem basicamente três formas de se reconhecer a cidadania italiana. A primeira via é aquela feita por meio de pedido ao consulado da Itália mais próximo do local de residência no Brasil. Nesse caso, geralmente o processo é bastante demorado, levando cerca de 12 anos para ser concluído e a cidadania reconhecida. Outro caminho é o administrativo, por meio do qual o interessado reside durante um período na Itália e faz o processo no próprio país, o que tende a agilizar os procedimentos. E, por fim, há o modelo judicial, por meio do qual é reunida toda a documentação do requerente, que é então ajuizada por meio de uma ação em um tribunal italiano. A Terra Nostra é especializada nessa última modalidade.
“Somos uma das poucas empresas que faz o trabalho de A a Z. Inicialmente levantamos os dados do cliente que ainda não sabe se tem direito a requerer a cidadania italiana – às vezes não sabe nem se tem italianos na família. Fazemos então uma pesquisa gratuita, para ter certeza de que essa pessoa dispõe dos requisitos para iniciar o processo. Não cobramos por esse levantamento para evitar uma eventual frustração, caso a pessoa não reúna as condições necessárias para entrar com o processo”, afirma. Feita a pesquisa, prossegue, a Terra Nostra vai atrás dos documentos, solicita certidões e faz o ajuizamento do processo na Itália. “Atualmente não há limite geracional; se puder ser comprovado que há algum ancestral italiano, a pessoa já pode requerer a cidadania.”
Planos futuros
Cardoso pretende retomar em breve o atendimento a seus clientes também por meio do modelo administrativo – aquele que é feito na própria Itália. Mas de uma forma diferente: trata-se de uma imersão na cultura do país europeu. “Nossa proposta é que o cliente viva uma experiência na Itália, experimentando in loco o que é viver e trabalhar naquele país. Inclusive tendo acesso a aulas do idioma e da culinária local”, revela, acrescentando que o novo serviço será uma autêntica experiência italiana.
“Eu sou um entusiasta da Itália. Toda vez que viajo para lá, fico extasiado com as coisas que eu não vi nas visitas anteriores, mesmo tendo atuado profissionalmente em Roma. Então, acho que essa iniciativa de imersão será muito interessante. Quem tiver a possibilidade de participar não irá se arrepender”, finaliza.
Em entrevista ao IstoÉ Sua História, Vagner Cardoso fala um pouco de sua trajetória com a Terra Nostra. Confira o papo na íntegra:
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