Atualmente, cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros sofre com a síndrome de burnout, distúrbio psíquico causado pela exaustão extrema relacionada ao trabalho, de acordo com dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), o que torna o País o segundo com mais casos diagnosticados no mundo. O problema é sentido de forma aguda no ambiente corporativo, com a constante pressão por prazos e resultados – o que leva as pessoas a buscarem alternativas. Foi o caso de Rodrigo Natal, que descobriu um ramo de negócios com o qual tem tido sucesso há seis anos: a comercialização de charutos por meio da Don Juan Charutos e Presentes.

Ele conta que já apresentava uma veia de empreendedor desde criança, quando vendia limonada na rua para os motoristas dos carros que passavam. “Enquanto todo mundo brincava na piscina, eu pedia para minha mãe e para minhas tias fazerem limonada. Eu montava uma barraquinha e vendia o suco na porta da casa para os carros que passavam na rua. Além disso, quando jovem eu gostava de promover eventos, como festas em casas – e comprava tudo, organizava, cobrava os ingressos. Acho que essa vontade de iniciar projetos é algo com o qual eu já nasci”, afirma.

Quando chegou o momento de escolher uma carreira e ir à faculdade, ele preferiu a área de Administração de Empresas, por entender que isso permitiria acesso a várias opções de trabalho. Isso pavimentou sua ida ao mundo corporativo, em uma empresa da área farmacêutica. “Comecei como estagiário, e tinha uma boa remuneração e benefícios. Aos poucos fui crescendo lá dentro. Eu me dedicava bastante, chegava mais cedo ao trabalho, era bastante esforçado. E com isso fui recebendo mais atribuições. Eu sempre tinha um volume grande de trabalho”, conta. Essa rotina foi interrompida por 30 dias de férias, as quais Natal teve a oportunidade de relaxar, visitando destinos no exterior com sua namorada e inclusive pedindo ela em casamento na ocasião.

O baque veio na volta das férias. “Quando voltei ao trabalho, eu abri o notebook e vi que tinha 1.800 e-mails na caixa de entrada. Além disso, havia um monte de reuniões marcadas, e providências que tinham de ser tomadas por tarefas que não tinham dado certo na minha ausência ou algo assim. Naquele momento eu tive o que hoje é conhecido por burnout. Eu não conseguia fazer nada! Era tanta coisa que eu não sabia nem por onde começar”, lembra. Natal passou a se sentir mal, tendo dificuldades para dormir. Ele relatou sua situação para seus superiores na empresa e tomou a decisão de sair. “A única certeza que eu tinha era a de que não iria voltar a esse tipo de atividade.”

Surge a Don Juan

Nos próximos meses, ele trabalhou com o pai, que atua no ramo imobiliário, mas sabia que não era aquilo que queria. Após ter aguentado as pressões do meio corporativo, era hora de acionar sua veia de empreendedor. “Comecei a pensar em possíveis empreendimentos que poderia ter lá onde morava, no bairro do Tatuapé [zona leste de São Paulo]. E eu sempre fui apaixonado por nichos de mercado; eu não queria investir em um restaurante ou uma padaria, mas sim em algo que fosse mais direcionado.” E a ideia para seu negócio surgiu quase que ao acaso, ao observar seu pai fumando um charuto em casa.

“Sempre achei o máximo ver ele fumando charuto. E aí me deu um estalo: percebi que ele não comprava os seus charutos no Tatuapé. Perguntei onde ele comprava, e ele me disse que em Moema. Eu perguntei a razão de ir até lá, já que havia um quiosque no shopping center Anália Franco, perto de onde a gente morava, que vendia charutos. E ele me disse que lá eles não ofereciam variedade e nem contavam com um espaço exclusivo para os clientes fumarem”, conta. Já considerando as oportunidades de investir nesse nicho, Natal fez um levantamento informal com pessoas conhecidas para saber onde compravam seus charutos e o que valorizavam no momento de escolher um local para comprar o produto. Foi assim que descobriu que haviam estabelecimentos na zona sul da cidade que ofereciam uma boa variedade, acondicionamento correto dos charutos e áreas para que os clientes pudessem degustar os charutos ou tomar um drinque enquanto fumavam.

A partir dessas informações, Natal abriu a Don Juan Charutos e Presentes em 2018. No início foi um processo de tentativa e erro; mas aos poucos foi se formando um grupo de clientes habituais, que começou inclusive a demandar um espaço para a degustação dos charutos. Como marca de seu compromisso em oferecer um serviço de qualidade, a Don Juan já contava desde o início com umidores – armários fechados, revestidos em cedro, que garantem a preservação das propriedades naturais do charuto. O espaço no qual ele montou a loja foi reformulado, com ajuda de sua prima – que respondeu pelo projeto arquitetônico. Assim, o estabelecimento passou a ter um lounge para os clientes. Mas aí veio o grande desafio sobre o negócio: a pandemia do Covid-19.

“Eu tinha acabado de investir todo o dinheiro que tinha e então tive de fechar – me limitando a fazer entregas de carro. Na época, achava que essa situação não teria fim; imaginei que o mundo iria parar. Mas, com o tempo, aconteceu justamente o contrário. As pessoas, até por terem de ficar muito tempo em casa, começaram a ficar ansiosas ou, por outro lado, passaram a dispor de mais tempo para provar coisas novas. E degustar um charuto é uma delas. Dessa forma, as vendas aumentaram, tanto durante a pandemia quanto depois”, afirma.

Negócio em expansão

Desde então, Natal conta que o negócio tem prosperado, o que levou à abertura de uma outra unidade, no bairro de Santana. Ao longo do tempo, ele também foi conhecendo mais a fundo as peculiaridades da comercialização de charutos, marcas e requisitos de acondicionamento, por exemplo. Ele chegou a frequentar um curso especializado, feito por uma associação internacional. “Valeu o investimento. É um aprendizado não só na teoria, mas também na prática. Ele ensina, por exemplo, a se fazer análise sensorial, e harmonizações com diferentes tipos de bebidas, alcoólicas e não alcoólicas. Além disso, também aprendi muito com o feedback dos clientes.”

Ele conta que o grande desafio nesta etapa foi a divulgação da Don Juan – afinal, o produto é considerado como pertencente à mesma categoria dos cigarros, o que limita bastante as possibilidades de inserções publicitárias. “Fui fazendo ações pontuais, criando grupos na internet e mailing lists. E os clientes iam fazendo a divulgação boca-a-boca. Foi um trabalho de formiguinha.” Outra questão enfrentada nesse período foi a administração propriamente dita do negócio. “Também nessa parte eu pesquisei bastante, para fazer tudo dentro da lei. A legislação permite o fumo em locais fechados apenas em locais de culto religioso, penitenciárias e tabacarias – nesse caso, é necessário deixar bem claro na entrada que se trata de um local para o consumo de tabaco. Há também a questão da exaustão correta no ambiente, a fim de que a fumaça possa fluir. Tudo isso fui descobrindo aos poucos, conversando com as pessoas”, conta.

Por fim, Natal salienta o desafio representado pelo preconceito que existe com relação ao charuto – que acaba sendo colocado na mesma categoria que os cigarros pelas pessoas. “Sempre defendo que o charuto não vicia. É algo para a pessoa refletir, para confraternizar e tudo mais. O charuto não é tragado, então aquela fumaça fica só na boca, reduzindo bastante a absorção de nicotina. É claro que, assim como acontece com a bebida alcoólica, seu excesso pode prejudicar a saúde”, afirma.

Além de atender ao público que frequenta as duas unidades da tabacaria, Natal também leva a Don Juan a iniciativas externas – como no lançamento de carros no autódromo de Interlagos, em eventos corporativos e feiras de jóias e de relógios, por exemplo. “Acabo de inaugurar uma unidade dentro do restaurante italiano Famiglia Geraci, na Vila Olímpia, com um umidor próprio, no qual são oferecidas, junto com o cardápio do restaurante, sugestões de harmonização. Outra iniciativa, lançada recentemente, é a Don Juan Experience; trata-se do novo braço da Don Juan, especializado em oferecer experiências aos clientes”, complementa.

Em entrevista ao IstoÉ Sua História, Rodrigo Natal fala um pouco de sua trajetória com a Don Juan. Confira o papo na íntegra:

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