10/02/2025 - 17:03
Nascido na ilha de Marajó (PA), o empresário Rômulo Engelhard tem uma trajetória que revela, por um lado, o conhecimento técnico, aliado à vontade de incorporar novas soluções tecnológicas ao agronegócio; e, por outro, a capacidade de projetar cenários, se antecipando a movimentações do mercado e se posicionando de forma estratégica.
O empresário conta que tudo começou ao cursar um colégio agrícola federal, no qual se formou como técnico agropecuário. “Aprendi muito lá; naquela época, esses colégios davam todo o suporte ao aluno. Tive acesso não só à parte técnica do agronegócio, mas também a conhecimentos de gestão de negócios. Sou muito grato a essa passagem, a essa transformação na minha vida”, afirma.
A partir daí, Rômulo se lançou à carreira profissional. Após uma breve passagem pelo setor público, ele voltou sua atenção a grandes corporações – inicialmente nacionais, e depois multinacionais de peso. “Isso me deu um alicerce no mercado internacional de poder dentro do mundo corporativo. Foi quando eu vi que é necessário se planejar a cada dez anos. Esta visão de empresário mudou minha noção de como eu iria atuar para atingir os objetivos que eu queria”, conta.
Em uma dessas corporações, Rômulo atuou como gerente de centro de negócios para a região do Matopiba, que compreende áreas dos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia caracterizadas pela presença do bioma cerrado, e muito utilizadas no cultivo de grãos. “Era uma posição desafiadora, mas com muito planejamento foi possível registrar vários cases de sucesso.”
Voo solo
O conhecimento técnico, a experiência de gestão adquirida ao longo do tempo e a disposição de se antever às mudanças de mercado fizeram com que Rômulo passasse a considerar a possibilidade de atuar por conta própria no mercado. “Desengavetei alguns dos projetos da multinacional que tinham meta de lucro de US$400 mil por ano – e consegui obter US$2 milhões em três meses nessas iniciativas. Um amigo meu comentou essa característica minha de retirar produtos da prateleira, por assim dizer, e torná-los lucrativos, e me aconselhou a dedicar esse planejamento estratégico, esse esforço e esse conhecimento para um projeto próprio. A Engelhard Agrobusiness nasceu justamente deste pensamento: foi o momento em que decidi sair do mundo corporativo e traçar as estratégias da nova empresa”, afirma.
O começo, em 2009, foi desafiador – em especial os primeiros cinco anos, nos quais Rômulo sentiu falta do apoio que tinha nas grandes empresas nas quais havia atuado. “Eu era um profissional que era 50% voltado ao conhecimento técnico e 50% à área comercial, e achava que isso bastava. Passei por momentos difíceis no começo; minha primeira operação de exportação era em uma sala pequena, só eu e o estagiário que eu trouxe comigo da última empresa na qual passei.” Mas aí começaram a surgir oportunidades de negócios – e o instinto de reconhecer bons negócios e antever cenários se mostrou bastante útil.
“Visitei uma feira no Mato Grosso com um amigo. E notei um estande vazio, de um brasileiro que havia desenvolvido um software por meio do qual era possível, com imagens de satélite, acompanhar as diferenças de produção dentro dos talhões (ou lotes, e que correspondem a áreas de solo que representam a unidade mínima de cultivo de uma propriedade) – fossem de soja, de milho ou de qualquer outro cultivo. Quando eu bati o olho naquilo vi que era bastante valioso; afinal, você precisa de informações precisas sobre o campo para saber onde aplicar defensivos, onde concentrar seus investimentos etc.”, conta, acrescentando que, naquela época, ainda nem se pensava em utilizar drones para monitoramento agrícola.
Rômulo reconheceu imediatamente uma oportunidade, e adquiriu a franquia dessa tecnologia, estendendo sua aplicação para pastagens e outras culturas – como a palma, com a qual se faz o azeite de dendê. “Fiz alguns testes, apresentei para algumas empresas, e tivemos muito sucesso. Expandi meus negócios para a Colômbia naquela época, e cheguei a palestrar em um evento internacional sobre palma em Cartagena, na Colômbia, falando dessa tecnologia.”
Novos cenários, novas oportunidades
Já prevendo a então futura aplicação de drones para o monitoramento de cultivos, Rômulo se preparou com antecedência e passou a atuar no mercado internacional, com a exportação de frango e de carne bovina. Essa capacidade de planejamento estratégico acabou levando a Engelhard a ser um player importante no comércio de exportação de gado vivo para países como Arábia Saudita, Argélia, Egito, Iraque, Jordânia, Líbano, Marrocos e Turquia, além de destinos fora do Oriente Médio, como Vietnã e Indonésia.
“Nossa empresa está inserida entre os grandes players da América do Sul. Recentemente inauguramos uma unidade nos Estados Unidos, e conquistamos uma das maiores e mais rigorosas certificações mundiais do setor – o selo da Federal Drug Administration (FDA) dos EUA”, afirma. Trata-se da agência reguladora dos Estados Unidos responsável por garantir a segurança e qualidade de alimentos, medicamentos e outros produtos. A obtenção da certificação traz maior credibilidade internacional, além de funcionar como um diferencial competitivo, demonstrando compromisso com altos padrões de qualidade e segurança, e agilizar processos logísticos. Rômulo acrescenta que todas as operações seguem à risca todas as regulamentações internacionais, além de cumprirem rigorosamente todos os protocolos sanitários exigidos, preservando a saúde e a segurança dos animais.
Atualmente a Engelhard está colocando no mercado internacional uma solução de biotecnologia que, segundo Rômulo, tem o potencial de revolucionar a produção de alimentos em áreas que hoje dependem de importações para suprir o mercado interno. Ela possibilita o plantio acelerado de culturas em áreas pequenas, que podem inclusive se localizar em locais hostis à agricultura, com uma alta produtividade e necessidade mínima de gerenciamento humano. “Encontrei essa tecnologia aqui mesmo no Brasil, e fechei uma aliança com a empresa. Imagine você poder produzir milho, aveia, trigo, sem utilização de solo, e em sete dias já ter produção para colheita! Sem despesa com maquinário, sem uso de agrotóxicos e com utilização mínima de água. Conseguimos implantar essa solução em 30 dias, e em uma semana já está produzindo; da forma convencional, seriam necessários meses de preparo de solo, adubação e desenvolvimento da cultura”, salienta.
Essa biotecnologia é destinada inicialmente para produção de alimentos para animais de pequeno, médio e grande porte – mas também pode ser combinada para utilização na nutrição de seres humanos, uma vez que culturas como a aveia são ricas em proteínas. “No Brasil, essa biotecnologia poderia reduzir significativamente o desmatamento na Amazônia, já que evitaria a necessidade de abrir novas áreas para produção agrícola. Pequenos e médios produtores, que hoje muitas vezes recorrem à derrubada da floresta para expandir suas lavouras, poderiam aumentar sua produtividade de forma sustentável, sem comprometer novas áreas de vegetação nativa. Além disso, a capacidade de produzir alimentos em espaços reduzidos, com alta eficiência e mínimo impacto ambiental, tornaria essa solução um marco para a agricultura sustentável no país.” Rômulo acrescenta que pretende levar essa iniciativa à 30ª Conferência das Partes sobre a Mudança do Clima (COP-30), que acontecerá em novembro deste ano em Belém (PA). “Estamos levando essa solução para os países do Oriente Médio, mas eu gostaria muito que fosse aplicada primeiro no Brasil”, pontua.
Além do investimento nessa biotecnologia, a Engelhard Agrobusiness deverá investir no futuro próximo na implantação de outras soluções inovadoras – como o uso de inteligência artificial na agricultura. “Se o País já é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, imagine para onde iríamos com o apoio de soluções tecnológicas inovadoras? E não queremos que esse conhecimento fique retido na Engelhard; queremos trazer isso para o Brasil, e contribuir para o agronegócio brasileiro”, finaliza.
Em entrevista ao IstoÉ Sua História, Rômulo Engelhard fala um pouco de sua trajetória no desenvolvimento do agronegócio brasileiro. Confira o papo na íntegra:
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