Carlos Prado começou a trabalhar como gandula, em uma quadra de tênis para ajudar nas despesas da família. Ele tinha apenas 12 anos quando assumiu a responsabilidade de pagar a conta de luz. Filho de um jardineiro e de uma faxineira, Carlos fez da educação a sua grande chance. CEO e fundador do grupo Tour House, uma agência de turismo especializada em viagens e eventos corporativos, ele lidera hoje uma equipe com mais de 350 colaboradores.

Natural de Atibaia, cidade localizada na região sudeste de São Paulo, Carlos cresceu na companhia dos quatro irmãos e enfrentou a pobreza durante a infância. “Lembro que a última vez que pedi dinheiro para o meu pai, eu tinha sete anos, queria um cruzeiro e ele me disse que não tinha”, conta o empresário.

Mas a falta de recursos não impediu Carlos de frequentar a escola e de encontrar dentro da sala de aula motivos que o fizesse acreditar em um futuro diferente. “O estudo era algo sagrado em casa, minha mãe tinha pouca instrução, no entanto, acreditava muito na educação.”

Conciliando os estudos com o trabalho, o CEO revela que conseguiu o emprego de gandula em um clube na cidade, onde os pais já trabalhavam. “Ia para escola de manhã, à tarde trabalhava com a minha avó na roça, ela era produtora rural, e aos finais de semana eu era gandula na quadra de tênis”, diz.

Com o tempo, Carlos ganhou a confiança da direção da empresa e assumiu outras funções, como por exemplo, auxiliar de contabilidade, aos 17 anos. “Fui crescendo no clube, me tornei auxiliar de garçom, depois assistente de restaurante, até que cheguei a área contábil, em 1984.”

Bem-vindo à capital paulista

Disposto a viver outras experiências profissionais e decidido a cursar a faculdade, o CEO pediu demissão e se mudou para São Paulo, mas antes, ele negociou emprego com três diferentes empresários. “O meu bom relacionamento no clube me fez conhecer diferentes pessoas e ter uma boa aceitação entre os empresários, então viajei com opções de trabalho na capital”, detalha.

Aluno do curso de ciências contábeis, Carlos estudava à noite e durante o dia trabalhava em três lugares diferentes para conseguir se manter na cidade. “Eu entrava às 6h30 e saia 12h, almoçava rápido e descia correndo a rua da Consolação para chegar a tempo de entrar no banco Boa Vista, instituição que hoje não existe mais. De madrugada e aos finais de semana, aproveitava o tempo para fazer a contabilidade de um condomínio em Atibaia”

Durante meses, o empresário seguiu a rotina intensa e não esconde o orgulho que sente quando lembra de tudo o que realizou ao longo desses anos, “quando você coloca um objetivo e imprime um ritmo tudo acontece e isso me faz ter a certeza que fiz a escolha certa quando decidi me esforçar”, afirma.

Mas o CEO precisou desacelerar após sofrer um grave acidente de carro, em 1986, na Rodovia Fernão Dias – trecho que liga São Paulo a Minas Gerais: “Foi algo sério e que me marcou muito. A minha vida mudou depois desse dia”, revela.

Carlos conta que perdeu duas primas no acidente, elas estavam junto com ele no automóvel. “Foi um grande choque para mim. Depois disso, percebi que precisava diminuir o ritmo e repensar a quantidade de trabalhos e empregos que eu acumulava.”

Carlos voltou a atuar no mercado corporativo, mas desta vez na Rádio Globo, no setor de recursos humanos. “Minha passagem por lá foi breve, infelizmente, porque recebi outra proposta de trabalho, mas fico feliz por ter tido essa experiência.”

Aos 20 anos, o empresário assumiu o seu primeiro cargo na área de gestão. “Me tornei gerente do almoxarifado e expedição de uma grande loja e fábrica de lustres. O dono conhecia o meu pai e dizia que a minha criação iria impactar na evolução da organização dos negócios, e assim aconteceu durante o tempo que estive lá.”

Em pouco mais de um ano, Carlos desenvolveu projetos e ações dentro da empresa, mas optou por sair assim que decidiu empreender no próprio negócio. Ele abriu um escritório de contabilidade e também uma pizzaria em sociedade com um amigo. “Sai de Atibaia com muita vontade de empreender, eu não queria para a minha família, para os meus filhos, aquela pobreza extrema, com privações de alimentos e falta de itens básicos”, detalha.

Vontade de empreender

Com o sonho de conquistar um espaço na grande metrópole, o CEO recorda, com emoção, o dia em que desejou mudar a sua trajetória profissional. Era 8 de março de 1984, por volta das 20h30, ele voltava de Atibaia em direção à São Paulo, pela Rodovia Fernão Dias, quando atravessou o túnel da Mata Fria e foi surpreendido por um visão que jamais esquecerá: “Olhei pela janela do ônibus e avistei um brilho no horizonte. Naquela época, não havia tantos prédios e as luzes da cidade pareciam mais distantes, mas tão cheias de possibilidades. Foi então que pensei: vou conquistar um espaço nessa grande cidade”, diz.

Persistente, aos 24 anos, o empresário fundou a Tour House – viagens corporativas, em 1990, durante o Plano Collor, um conjunto de medidas econômicas implementadas pelo governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello. “Iniciei a minha jornada à frente da marca em meio aos desafios e a loucura que o País vivia, mas quando faço uma analogia me sinto realizado.”

Com objetivo de vender 500 passagens no primeiro ano, Carlos conta que hoje, 34 anos depois, a agência vende esse número de bilhetes a cada duas horas. “Nós construímos uma grande jornada, falo no [plural] porque eu não construi nada sozinho. O meu sócio e todos os colaboradores que passaram ou estão na empresa têm um papel fundamental nesse resultado”, afirma.

Tour House

Eleita a primeira agência brasileira a realizar a neutralização de carbono gerado durante suas operações, a Tour House valoriza questões ambientais e sociais dentro e fora dos escritórios. “O nosso País é o primeiro do mundo em recursos naturais e o oitavo em recursos culturais, por isso, eu acredito tanto na preservação dos costumes indígenas, das influências afro e das europeias, ou seja, em tudo de maravilhoso que o Brasil tem”, diz.

Referência no mercado de viagens e eventos corporativos, a companhia foi estruturada para oferecer recursos e soluções de gestão, incluindo inovações e oportunidades de mercado. “Nossos passageiros recebem todo o suporte em forma de serviços, com o gerenciamento e o acesso a informações através de uma equipe especializada e capacitada para atendê-los.”

Segundo o empresário, até 2030, a Tour House terá um quadro de colaboradores com 50% de pessoas não brancas e com mais mulheres ocupando posições de liderança na agência. “Hoje, na nossa equipe, todos os setores incluem mulheres, mas estamos trabalhando para ofertar mais cargos para elas, assim como temos a meta de ter 20% da empresa formado por pessoas do grupo LGBTQIAPN+.”

Para Carlos, uma empresa sem cultura é uma empresa sem alma: “Um dos valores que temos trabalhado forte nesses 34 anos é o respeito, porque é a união dos CPFs e não dos CNPJs que formam o grupo Tour House. A nossa essência reflete o que somos e o que acreditamos.”

Comprometido com o sistema ESG, a sigla das palavras em inglês Environmental, Social e Governance, o CEO da companhia defende a prática e explica como introduziu os termos no ambiente de trabalho. “Prático o ESG antes mesmo do conceito ser reconhecido em nível mundial, porque eu sou um ‘cara’ privilegiado, nasci no ‘mato’, então sei que a natureza não depende da gente, mas nós dependemos dela e isso define as nossas escolhas como gestor e também empresário.”

Muito além do empreendedorismo

Nome conhecido no setor do turismo, Carlos realiza ações e projetos que incentivam a educação e a cultura nacional, através de programas sociais e colaborativos. Entre eles estão o movimento Supera Turismo Brasil, Supera Turismo Rio Grande do Sul e o Instituto Educa Todos.

O empresário conta que as iniciativas surgiram para contribuir com o desenvolvimento sustentável do país. “Posso listar várias fases difíceis que vivi ao longo desses anos como empreendedor e também como cidadão brasileiro, mas acredito que a pandemia da Covid-19 tenha afetado muito o funcionamento do Brasil e isso me despertou a vontade de preservar vidas e empregos através do movimento Unidos pela Vacina.”

Com apoio de outros líderes empresariais, como Luiza Trajano, a CEO da rede de lojas de varejo Magazine Luiza, Carlos se uniu a nomes de destaque do mercado para impulsionar ações ao longo do ano. “Trabalho ao lado de grandes amigos nessas causas e não em troca de holofotes e sim porque o sofrimento de outras pessoas nos incomoda e nos incentiva a querer fazer a diferença”, finaliza.

Em entrevista ao IstoÉ Sua História, Carlos Prado contou em detalhes o início da vida profissional e como o grupo Tour House tem conquistado o mercado corporativo de viagens. Confira a conversa na íntegra:

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