13/01/2025 - 14:34
O mundo dos negócios foi cruel com Seni Prates. Engenheira, ela viu o seu primeiro empreendimento escorrer pelas mãos graças a uma sócia desonesta, que desviou dinheiro da empresa. O momento pesou a Seni, que ficou encurralada em uma série de dificuldades pessoais e por um momento considerou começar do zero em Portugal.
Essa turbulência toda só passou graças à determinação da empresária, que foi do luto à luta. Seni retomou na justiça aquilo que era seu e hoje, à frente da Seni Prates Engenharia, ela revoluciona o mercado de construção civil. Ela tece uma relação mais próxima com seus clientes, que perseguem o sonho da casa própria nas regiões das cidades de Bom Jesus da Lapa e de Guanambi, na Bahia.
Para tanto, a engenheira trabalha com o financiamento de construção, acompanhando a jornada do comprador desde o início —o que ela afirma ser mais seguro que a venda na planta.
“Eu tive diversos impasses para ir contra o hábito de vender a casa na planta. As pessoas falavam que não daria certo, que a cidade [Guanambi] era pequena para isso”, diz Seni. “Eu viabilizei isso. Eu estudei bastante e consegui mostrar para elas que esse modelo é muito mais seguro”, ela continua.
De acordo com Seni, a formação em engenharia civil atualmente dá pouca luz ao tema do financiamento habitacional, tema que ela vê como importante aos corredores do mundo. A empresária afirma que precisou aprender sobre a área na prática e que os seus empreendimentos só deslancharam quando ela entendeu as modalidades da Caixa Econômica Federal, que detém o controle. O momento do país também a estimulou a seguir carreira no empreendedorismo.
“Eu me formei em uma época de recessão. As grandes empresas da área, como a Odebrecht, estavam todas falindo, então não existia emprego seguro na área. Ou você se arriscava nos negócios, ou acabava fora do mercado de trabalho”, relembra a engenheira.
O modelo deu tão certo que o primeiro empreendimento de Seni Prates a certa altura foi a maior empresa do ramo de Guanambi, onde ela começou a carreira —ela diz que chegou a vender 12 casas em uma semana. Mas as coisas desandaram quando a sua avó, que morava em Brasília, entrou no estágio final de um câncer, obrigando a empresária a dedicar atenção a sua vida pessoal. Nesse momento, ela confessa que o seu maior erro foi confiar cegamente em sua sócia para lidar com a administração do negócio.
“Eu sempre me dei melhor com a parte técnica e operacional, a sujeira por assim dizer”, afirma Seni. “Eu era a pessoa que lidava com pedreiro e com as vendas, mas eu não me envolvia muito com a parte da contabilidade. Hoje eu digo para todo mundo: quer entrar na área? Não esqueça de ficar no escritório. Deixar o meu sócio tomar conta dessa parte foi o meu principal equívoco”, declara.
O passo em falso custou caro. Segundo a engenheira, a sócia desviou dinheiro das contas da empresa enquanto ela cuidava da avó, em um rombo que hoje ela diz estar estimado em R$ 1 milhão. Para não perder a sua credibilidade com os clientes, Seni tomou os danos para si, vendendo todos os seus bens, e entrou na justiça contra a antiga parceira.
O processo ainda está ativo, mas Seni diz que venceu todas as instâncias do julgamento, que chegou a ir ao tribunal de Salvador. Ela agora aguarda a devolução dos bens que foram congelados para pagar os clientes que ainda estão prejudicados pelo desvio das contas da ex-sócia.
A justiça foi feita, mas o pedágio emocional foi demais para a engenheira, que viu o seu casamento acabar por isso. “Eu fiquei de cama por um ano e quatro meses, porque eu só conseguia lidar com esse caso no meu dia a dia”, diz Seni. “Eu não conseguia atender ninguém porque, se fizesse, eu estaria deixando a minha sócia escapar impune. Cheguei ao ponto de pegar a minha carteira do Crea [Conselho Regional de Engenharia e Agronomia] e jogar no lixo, jurando que não exerceria mais a profissão porque era muita injustiça que acontecia comigo naquele momento”, ela continua.
Seni na época ainda viu os seus projetos plagiados por um antigo parceiro de Bom Jesus da Lapa, que se apropriou deles para executar um imóvel com outro sócio. Eles executavam as casas só para vender na modalidade de financiamento de construção, segundo ela.
Poderes e responsabilidades
Foi nessa época que Seni se mudou de Guanambi para Bom Jesus da Lapa e cogitou uma mudança para Portugal. A viagem só não aconteceu porque a sua boa reputação a perseguiu: “As pessoas ficavam me procurando porque eu já executava imóveis na cidade. Aí acabei fazendo um projeto para um parceiro meu”, diz ela.
A engenheira também soube evoluir no período em que afundou na depressão e, abrindo a Seni Prates Engenharia pouco depois com a cabeça serena quanto ao modelo empresarial . “Eu me tranquei dentro do quarto durante um mês para entender tudo o que eu tinha errado”, lembra Seni. “Então eu simplesmente eliminei aquilo que tinha feito de errado e decidi tomar conta dos negócios, da contabilidade. Nem que eu precisasse passar o dia sem dormir, eu vou assumir essa parte porque é melhor ter uma quantidade menor de imóveis em execução do que perder todo o controle do negócio”, ela continua.
A empresária também diz que o mais importante nesse momento foi incluir a experiência do cliente em suas prioridades. “Eu construí um modelo de negócio que respondesse e respaldasse o cliente a todo o momento, porque eu não queria ser culpada de coisas que não fiz”, afirma Seni. “Eu queria levar transparência e clareza ao mercado, permitindo a elas que fiscalizem as obras que compraram. Até porque isso facilitaria muito a vida delas”, ela continua.
No escritório, isso se traduz em um acompanhamento constante da construção. A Seni Prates Engenharia disponibiliza um aplicativo aos clientes que conta com um recurso de geolocalização da engenheira. Isso permite que eles saibam quando Seni e seus associados visitaram e supervisionaram a construção do imóvel.
“O meu principal processo hoje é provar para as pessoas que o financiamento de construção é muito seguro”, diz a empresária. Ela afirma ainda que os clientes têm acesso às notas fiscais e ao planejamento e orçamento da obra.
A prática tem gerado bons resultados, segundo Seni, a começar por inviabilizar alguns vícios dos moradores das duas cidades. “Em Bom Jesus da Lapa, as pessoas usam muita treliça, né? Quem pesquisar sobre essa estrutura vai perceber que ela não pode ser utilizada em todas as situações, mas as pessoas aderem a ela porque barateia o custo da obra”, diz a engenheira. “Por falta de informação, o consumidor compra aquilo e acha que tem a obrigação de ter que consertar por conta própria. No meu negócio, quando eu vendo a casa, já fica no sistema a lista de todas as garantias”, declara.
Seni também critica outros empresários da área, dizendo que eles colocam o público em risco por motivos mesquinhos. Segundo a empresária, a modalidade de financiamento de imóvel mais usada em Bom Jesus da Lapa é o do Minha Casa Minha Vida, o qual ela facilita o acesso.
“Quando eu cheguei em Bom Jesus da Lapa, uma das coisas que me deixava chateada eram os construtores amadores. Eles não eram engenheiros ou corretores, então vendiam de 20 a 60 casas por mês evitando as normas técnicas. Eles visam o lucro mesmo quando isso compromete a garantia do imóvel, além de não calcularem o custo de eventuais consertos durante a venda”, ela afirma.
“No caso de pessoas mais carentes, isso é uma falta de responsabilidade muito grande. Quando comecei a atuar na cidade, passando as informações necessárias, as pessoas percebiam que estavam comprando um imóvel que podia ruir inteiro se elas não pagassem. Eu sei o que dá certo e o que dá errado, mas também sei quando erro e deixo isso bastante claro aos meus clientes. As pessoas não têm a responsabilidade que eu tenho quando eu vendo imóveis”, declara a engenheira.
Em entrevista para o IstoÉ Sua História, Seni Prates conta mais de sua trajetória profissional e discute os desafios da construção civil à frente da Seni Prates Engenharia. Confira:
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