Emanuele Godinho desbravava o mundo securitário há apenas um ano quando viu a vida explodir como uma bola de chamas, em 2017. Moradora de Belo Horizonte, ela e o marido passaram por uma crise financeira imensa, que obrigou os dois a usarem o cheque especial e até a venderem os carros na garagem. Tudo porque o casal gastava demais, mesmo quando ganhavam muito.

A experiência machucou muito, mas Emanuele aprendeu ali a sua lição. Dona da BLM Financial, ela trabalha hoje como planejadora financeira, cuidando dos clientes para que eles não caiam no ciclo vicioso que a consumiu há sete anos. Essa posição foi conquistada com muito trabalho e estudo. A empresária é uma das poucas no país a possuir a CFP, certificação cobiçada no mercado financeiro que a legitima como autoridade no meio.

“Hoje eu vivo uma vida plena e faço tudo o que eu quero porque eu abri mão e decidi passar por todo aquele sofrimento. Mas ele não é algo confortável, é algo que dói”, diz Emanuele.

“Quando eu decidi tirar o CFP, resolvi entrar de cabeça. Naquele momento, pensei que a única coisa que precisava fazer era mostrar para as pessoas que têm sim uma forma de viver uma vida financeira mais leve, mais completa e mais tranquila, sem essa preocupação de ter que trabalhar para pagar conta. A única certeza que eu tinha era que eu nunca mais queria voltar para aquele fundo do poço”, ela completa.

O aperto financeiro veio de repente, mas era uma tragédia anunciada. Desde que começou a trabalhar, aos 16 anos, Emanuele mantinha uma rotina irresponsável com os seus ganhos, culpa da falta da educação financeira em sua vida. Segundo ela, os seus gastos aumentavam no mesmo ritmo em que ela subia na vida, um problema que ela dividia com o marido.

“O ano de 2017 foi aquele em que eu e meu marido mais ganhamos dinheiro, mas também aquele que a gente quebrou”, ela lembra. “A gente entrou em um ciclo de dívida, parcelando a fatura do cartão de crédito, tornando o cheque especial em praticamente parte do nosso salário e pegando dinheiro emprestado com os amigos”, continua Emanuele.

Emanuele afirma que o processo para recuperar as contas e voltar a caminhar com as próprias pernas foi doloroso. Além de cortarem os cartões de crédito, o casal abriu mão dos dois carros, sacrificando a independência deles —ambos usavam os veículos para o trabalho.

Nesse meio tempo, a empresária continuou a trabalhar e percebeu que precisava colocar a cabeça nos estudos. “Eu comecei a atender um perfil de cliente que me pedia um conhecimento maior da área financeira, e nesse momento percebi que não dava para continuar daquele jeito”, diz Emanuele. “Eu comecei a buscar no mercado o que poderia aprender sobre o meio, em busca de cursos e certificações que ampliassem o meu entendimento da área financeira”, afirma.

O que ela encontrou foi a CPF, sigla para Certified Financial Planner, que garante que o detentor sabe como analisar o mercado e o perfil dos clientes. A certificação tem valor internacional e é obrigatória nos Estados Unidos, mas também é difícil de ser obtida. Ela exige do candidato uma experiência mínima de cinco anos na área, além de que ele passe em um exame especializado.

Segundo Emanuele, apenas 9.379 brasileiros possuem o CFP hoje, e o desafio a seduziu. A empresária se dedicou aos estudos por quatro meses, estudando mais de cinco horas por dia para passar nos exames e obter a documentação. No processo, ela e o marido também aprenderam a controlar os gastos.

“A CFP é uma certificação em que você aprende a analisar a vida de uma pessoa em todos os aspectos, não só no financeiro”, ela explica. “A gente estuda toda a parte de planejamento financeiro, de investimento, de previdência, de economia tributária, sucessória… você aprende a aplicar tudo isso à vida de uma pessoa e a ter uma visão completa sobre ela. Isso é coisa que um profissional do mercado com um curso básico não vai entender.”

Corrente do mal

Emanuele começou a trabalhar como planejadora financeira em 2019 e rapidamente percebeu que queria uma consultoria própria. Ela montou um escritório com outros sócios em 2021, mas dois anos depois decidiu se desfazer do negócio e abrir a BLM Financial. A pandemia de 2020 facilitou os trâmites, organizando toda a burocracia relacionada à carteira de investimentos em processos digitais.

“A BLM é uma empresa onde a gente trabalha a vida financeira do cliente”, explica Emanuele. “Eu cuido desde a base, que é o planejamento, onde você está e quer chegar, e tratamos de tudo relacionado ao tema. Isso envolve a proteção do seguro, a criação de crédito para a pessoa física e jurídica, o financiamento imobiliário e o investimento, que é onde a gente ajuda a pessoa a multiplicar o seu dinheiro e a concretizar os seus sonhos”, ela acrescenta.

A empresária vê nos clientes —e na própria trajetória— um padrão de comportamento com o dinheiro a ser rompido, que envolve gerações de famílias mal resolvidas com os seus ganhos. Ela se aprofundou na questão há dois anos, quando fez um curso de behavioral economics na Universidade de Chicago.

“O nosso comportamento com dinheiro tem muito mais a ver com as nossas crenças e valores, daquilo que a gente viveu na infância”, afirma a planejadora. “Quando a gente fala nos ciclos que se repetem, eles vêm muito daquilo que recebemos de criação. Como foi a sua relação com os seus pais? Como foi a relação dos seus pais com os seus avós? E dos seus avós com os seus bisavós? Esse ciclo vem se repetindo”, ela explica.

Emanuele ainda afirma que esse caso se aprofunda no Brasil com a ausência de uma boa educação financeira: “Essa questão não existia há dez anos, até porque a internet não tinha o poder que tem hoje. Nós somos o reflexo de nossos pais, então se você vem de uma família que teve problemas com dinheiro, isso se repete na sua vida como um ciclo vicioso. Isso só vai mudar quando você entender as crenças que estão por trás disso, que vem lá da infância. Só assim você consegue reprogramar a sua cabeça e melhorar a sua relação com o dinheiro.”

Desde que tirou a CFP e se especializou na área, Emanuele Godinho realizou mais de 150 trabalhos de planejamento financeiro. A BLM Financial também vai muito bem, obrigado. Com quatro pessoas na equipe e mais três a caminho, a consultoria tem a meta de fechar 2025 com uma gestão de R$ 300 milhões, um valor que reúne os investimentos de todos os clientes. No papel, completar esse objetivo significaria um crescimento de até 40% para o negócio e para as pessoas que a empresária atende.

Nessa bonança toda, Emanuele também se diz realizada com a carreira que escolheu. “Hoje eu sou apaixonada pela economia comportamental. Eu falo para todos os meus clientes que, antes do dinheiro, a gente vai tratar de comportamento. Eu quero entender como foi a infância dela, como era a relação dos pais com dinheiro, quero entender o que levou aquela pessoa à situação que ela encara hoje e localizar a raiz do problema. Quando você entende tudo isso e desenha o ciclo por trás, o negócio anda sozinho”, ela diz.

Em entrevista para o IstoÉ Sua História, Emanuele Godinho conta mais de sua trajetória profissional e discute os desafios do planejamento financeiro à frente da BLM Financial. Confira:

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