16/09/2024 - 12:29
Diferentes culturas comemoram o 60º aniversário de uma pessoa de formas distintas. Na tradição chinesa é uma importante data, que marca o fim do ciclo de seis décadas (liùshí huājiǎ) e o início de uma nova etapa na vida; de forma semelhante, no Japão esse momento (kanreki) simboliza o renascimento. O “Jubileu de Diamante”, como é chamado no Ocidente, marca o momento para se refletir sobre as conquistas passadas e olhar para o futuro com novas esperanças e objetivos. Foi assim que o empreendedor Almir dos Santos decidiu comemorar sua chegada aos 60 anos, em março deste ano, compartilhando sua trajetória com o livro “Coração de leão: Jornada de coragem, desafios e conquistas”.
E trata-se de uma trajetória rica e bem-sucedida. Nascido em São João Batista, localizada a 77 km ao norte de Florianópolis (SC), inicialmente Santos trabalhou com a família na zona rural, aprendendo o valor do trabalho duro. Ainda jovem, aos 16 anos foi trabalhar em uma usina de açúcar, ao mesmo tempo em que cursava o ensino médio. Mas ele já pensava em uma outra trajetória profissional, e em 1984 decidiu investir no setor calçadista.
“Existiam na época algumas fábricas pequenas de calçados na cidade. Eu e meu irmão Aderbal nos unimos com um rapaz que já atuava no segmento, o Laudir, e criamos a Calçado ALA. A empresa tinha sete funcionários, produzia 30 pares de sapatilha de pano por dia, e foi crescendo aos poucos – somente após dois anos pudemos comprar um Fiat 147, que foi o primeiro veículo da empresa”, conta.
A empresa foi crescendo, e os os três sócios decidiram tomar caminhos individuais: enquanto Aderbal continuou na ALA, em 1990 Laudir saiu e montou a Via Scarpa. Já Santos deixou a ALA em 1994 e criou logo no começo de 1995 uma nova empresa, a Suzana Santos, que colocaria São João Batista no mapa de polos calçadistas do país.
Calçados: crescimento contínuo
Na década de 1990, a cidade gaúcha de Novo Hamburgo era indiscutivelmente o grande polo calçadista brasileiro – até hoje o município ostenta o título de “capital do calçado” por concentrar diversas fábricas. Mas a Suzana Santos começou a mudar esse quadro. “Até o início dos anos 1990, São João Batista copiava a moda produzida em outros lugares. Aos poucos o polo começou a crescer. Na época, fizemos um trabalho junto com o Sindicato das Indústrias de Calçados de São João Batista (Sincasjb) e com o governo federal – o que levou à aprovação de um projeto de estímulo ao setor”, afirma. Ele preside o sindicato desde 2001, período em que atuou no sentido de dar mais visibilidade à produção local, e em 2006 chegou a ocupar a vice-presidência da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
Ao mesmo tempo em que atuava na frente de representação do setor, Santos contribuía para transformar a indústria local em uma referência nacional. “Trouxemos um técnico de calçados para a cidade, criamos um laboratório para o desenvolvimento de produtos, e então a criação da região começou a se destacar. Em pouco tempo já estávamos promovendo eventos como a Semana da Indústria Calçadista Catarinense (Seincc), uma importante feira de componentes para calçados, que é realizada há 23 anos. Em seguida, sentimos a necessidade de expor nossas coleções e criamos a SC Trade Show, considerada a maior rodada de negócios do estado, que já caminha para a 36ª edição em outubro de 2024. Como resultado, a região de São João Batista é hoje reconhecida como um polo de referência de moda feminina de calçados no Brasil”, avalia Santos.
Santos criaria novas empresas, como a Formatt (1999), que atua no setor de embalagens; as marcas de calçados Renata Mello (2003), e Azillê (2011), cuja linha de fabricação é localizada no estado da Bahia. Vale destacar ainda a criação da Componarte, em 2009, empresa que atualmente é um dos maiores atacadistas de matéria-prima para calçados do Brasil, e que tem seis filiais nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Ceará.
Imóveis: diversificação dos negócios
No início dos anos 2000, Santos passou também a investir no mercado imobiliário – antecipando o boom do setor que se verificaria em áreas do litoral catarinense nos próximos anos. “Eu sempre investir em imóveis, comprando na planta, vendendo depois. Eu conhecia um engenheiro, que tinha uma pequena construtora, e isso levou à fundação de empresas para atuar nesse segmento”, relembra. Ele criou inicialmente a MSantos (2012), seguida da HSantos (2013) e da RSantos (2022), que promoveram lançamentos imobiliários em Itapema, Meia Praia, Porto Belo, Balneário Perequê, Bombas, Bombinhas, Mariscal e Canto Grande – além, claro, de São João Batista.
“Santa Catarina é um estado diferenciado na atração de investimentos para atrair investidores e turistas, pelo seu litoral e pela serra. Então, houve um crescimento muito expressivo – especialmente no período pós-pandemia. As pessoas passaram a valorizar mais a qualidade de vida, morando na praia ou no campo. Assim, houve uma explosão imobiliária em nossa região, que ainda continua; hoje vendemos imóveis não só para clientes brasileiros, mas também do exterior – e para brasileiros que residem no exterior”, ressalta.
Legado: contribuição dos filhos
Tantos empreendimentos levaram Santos a delegar a seus filhos a administração de alguns dos negócios da família. “Tenho três filhos mais velhos no primeiro casamento: o Almir Júnior, a Suzana e o Manoel. Eles trabalham comigo desde que eram bem jovens. Hoje quem conduz o setor calçadista são o Almir Júnior, que faz a parte de produção, logística e abastecimento, e a Suzana, responsável pelo marketing, criação de produtos e vendas. Eu fico meio como o presidente do conselho da companhia. Já o Manoel é quem conduz hoje a Componarte. Ele faz todo o processo de escolha do produto e seleção de compra; para isso, ele vai seis ou sete vezes por ano para a China, além de fazer pesquisas de produto também nos principais polos da Europa e dos Estados Unidos.” Além disso, o casal de filhos do segundo casamento, Francisco e Luísa, já atua na HSantos e na MSantos, empresas da área imobiliária.
Segundo Santos, o lançamento de sua autobiografia Coração de Leão: Jornada de Coragem, Desafios e Conquistas tem o objetivo de fixar seu legado a seus filhos e netos, além de inspirar mais pessoas a se tornarem empreendedores. “Para chegar onde eu cheguei, é necessário ter um instinto empreendedor. A gente tem que ter vontade de crescer, de acreditar. Sempre fui muito ambicioso, e desde jovem fui muito econômico, sempre trabalhei, e quando sobrava um dinheirinho, comprava um imóvel.” Ele conta que, quando tinha 24 anos de idade, trocou sua moto por um grande terreno no centro da cidade – que hoje concentra 494 lotes. “Imagina um jovem trocar uma moto por um terreno! Eu fiquei a pé, comecei a andar de bicicleta de novo, depois eu comprei um carro, e assim foi”, relembra.
Ao mesmo tempo em que colocou em prática seu instinto empreendedor, Santos não descuidou do aspecto social. “Tanto pelo sindicato quanto por iniciativa pessoal, sempre busco contribuir com a comunidade. No meu aniversário de 60 anos, eu não quis receber presentes, mas sim arrecadar dinheiro para entidades assistenciais locais. Sempre contribuí para várias iniciativas como sócio-contribuinte, e sou diretor da Casa Care, que trata de dependentes químicos. Este é um legado que meus pais me deixaram, e que estou deixando para meus filhos”, finaliza.
Em entrevista ao IstoÉ Sua História, Almir dos Santos fala sobre sua trajetória. Confira o papo na íntegra:
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