O Transtorno do Espectro Autista (TEA) afeta milhões de pessoas em todo o mundo e exige que a sociedade olhe cada vez mais a necessidade desses indivíduos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 1 em cada 100 crianças no mundo possui TEA. No Brasil, dados do Ministério da Saúde indicam uma prevalência de cerca de 1 para cada 54 crianças, o que reflete uma necessidade crescente de intervenções e suporte especializado. Com esse cenário desafiador, a Academia do Autismo surgiu como uma resposta crucial, que se dedica a fornecer suporte, educação e recursos para indivíduos com autismo e suas famílias. Fábio Coelho é um dos fundadores e a força motriz por trás da instituição. Juntamente com sua esposa e co-fundadora Mayara Coelho, eles promovem a inclusão social oferecendo um espaço onde indivíduos com autismo podem aprender, crescer e se desenvolver.

Contudo, o autismo nem sempre fez parte da vida de Fábio. Natural do Rio Grande do Sul, o psicólogo era concursado da Marinha e atuava na aviação, com prevenção de estresse entre pilotos, além de outras atividades. Entretanto, uma notícia na família mudou tudo. “Há 13 anos, veio um diagnóstico que não esperávamos de autismo para meu filho mais velho. A partir disso, direcionamos toda a nossa vida para o estudo do autismo. Primeiro para ajudá-lo, depois para ajudar outras crianças também”, conta. 

Ao avançar nos estudos, o casal conheceu outras famílias da região que também tinham dificuldades para encontrar informações, tratamentos adequados e suporte das escolas, e decidiram que deveriam agir. “Depois de dois anos, saí da Marinha e dediquei toda a minha carreira à área do autismo, tanto oferecendo serviços em uma clínica que nós temos lá no Rio de Janeiro, quanto com as capacitações e os cursos”, explica. A Academia do Autismo, fundada em 2018, oferece uma ampla gama de cursos de capacitação destinados a professores, psicólogos, terapeutas e familiares. “Hoje, tenho dois filhos com TEA, vivo autismo nas clínicas, vivo autismo na Academia do Autismo, ou seja, minha vida, 24 horas por dia, é dedicada a essa área, por isso que eu gosto tanto de falar sobre o assunto”, afirma.

Entre os cursos mais destacados da instituição estão capacitações em Análise do Comportamento Aplicada (ABA), inclusão escolar e formação avançada em TEA. A plataforma disponibiliza mais de 20 cursos, materiais exclusivos e supervisão mensal com especialistas. “Já batemos a marca de 40 mil alunos em toda a instituição. Temos vários cursos em português e em espanhol, além de pós-graduação também”, explica Fábio.

A Academia também mantém uma loja virtual com materiais educativos e terapêuticos, como kits de ferramentas, adaptadores de escrita, e outros recursos voltados para o desenvolvimento de habilidades em pessoas com TEA​. O Projeto Academia Solidária é uma iniciativa voltada para palestras, consultorias e treinamentos para a comunidade em geral de forma filantrópica. A instituição também realiza eventos gratuitos e possui uma comunidade online onde membros podem trocar experiências e conhecimentos. “Hoje, somos uma empresa consolidada que trabalha totalmente para o autismo. Apesar do nosso maior braço serem os cursos digitais, temos a loja, supervisão, apoio às ONGS que necessitam de doações, ou seja, nos consolidamos cada vez mais como um ecossistema”, complementa. 

Diagnóstico e intervenções

Um dos momentos mais importantes na vida de alguém com autismo é o diagnóstico. Isso porque o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é resultado de alterações físicas e funcionais do cérebro e está relacionado ao desenvolvimento motor, da linguagem e comportamental, afetando o desenvolvimento da criança e podendo dar sinais nos primeiros meses de vida. Por conta disso, a descoberta pode ser desafiadora para as famílias. “Você acha que, em algum momento, a criança vai falar, em algum momento vai socializar, as pessoas às vezes não entendem, mas falam coisas querendo ajudar, dizem que a criança que não está sendo estimulada direito, esse tipo de coisa, que gera culpa”, diz.

Entretanto, o profissional alerta que o diagnóstico é apenas o pontapé inicial para que as intervenções sejam planejadas. “Se tem uma coisa que é consenso no autismo é a precocidade. Quanto antes a gente diagnosticar e começar a intervenção, melhor o prognóstico”, explica. “As intervenções envolvem acompanhamento médico: a avaliação médica, especialmente psiquiatria infantil ou neuropediatria, que é o neurologista infantil, é muito importante na equipe interdisciplinar”, garante. 

Mas, a intervenção vai muito além disso. Um dos grandes focos da Academia do Autismo é o uso da Análise do Comportamento Aplicada (ABA). “A ABA é uma ciência que nasceu nos Estados Unidos, mas tem muita força aqui no Brasil também. Ela não nasceu para o autismo, veio das terapias comportamentais e era aplicada para medos e fobias, mas, nas últimas décadas, se consolidou como a ciência que tem mais evidência para a população autista”, detalha. “Com ela, podemos ensinar a pessoa a ter mais autonomia,  bem-estar, a socializar, a se comunicar, a falar. A ABA veio para mostrar isso com muito estudo”, complementa.

As práticas combinadas do ABA são resguardadas por embasamento científico e são largamente estudadas no segmento. “Recentemente, saiu uma meta-análise, uma revisão sistemática muito robusta que pegou praticamente todos os artigos que tinham de pesquisa na área do autismo e mostrou, a partir de um critério muito rigoroso, 28 práticas que têm evidências para o autismo. Então, basicamente, a gente diz que se você estudar e aplicar corretamente, vai funcionar […] A maioria dessas 28 práticas são baseadas na ABA”, explana. 

Contudo, a aplicação dessa intervenção específica ainda é um desafio no Brasil. “Como não tem uma regulamentação, basicamente todo mundo pode dizer que faz ABA. Como que os familiares vão diferenciar a ABA de verdade, de acordo com que os estudos preconizam, ou alguém que está só intitulando, usando o nome, porque sabe que as pessoas vão procurar?”, alerta. Há alguns anos, o cenário do uso da ABA era elitizado e exclusivo e, apesar de ter sido mais popularizado, ainda gera desconfiança. “Como a ABA veio da parte comportamental, tinha um mito de que é um adestramento de animal, você vai robotizar a criança. Mas esses são os mitos que a própria área da psicologia sofre normalmente, essa área mais comportamental sempre teve esse estigma”, relembra.

Com tantas opções de intervenções, é preciso analisar caso a caso. “Cada criança passa por uma avaliação. A partir dessa avaliação interdisciplinar, montamos um plano de intervenção para ela, vendo quais são as lacunas do seu desenvolvimento. E aí começa essa intervenção, que é feita com muitos registros, toda baseada em dados para verificarmos, através inclusive de gráficos, se a criança está evoluindo ou não. Inclui também outros ambientes, como a participação dos pais e participação da escola”, exemplifica. Depois de algum tempo, uma reavaliação é feita para se observar quais foram os ganhos nas áreas de linguagem, de autonomia, de socialização e motora. 

Fábio também reforça que incluir as pessoas autistas na sociedade é uma tarefa de todos, e não apenas das pessoas envolvidas na vida do indivíduo. Por isso, todas as escolas devem ter orientação adequada para se adaptar às questões desses alunos. “Podem ser feitas leves adaptações, como, por exemplo, uma mudança no currículo, uma mudança na rotina escolar, uma mudança no barulho ou na iluminação, conscientização dos colegas […] Às vezes são coisas bobas, como trocar para uma lâmpada mais suave, um sinal sonoro por sinal luminoso”, exemplifica. Segundo ele, os autistas com níveis de suporte mais baixos são os mais invisíveis, “Ao invés de ficar cobrando que o aluno faça exatamente igual aos outros, se a gente aceita e flexibiliza, não gera uma sobrecarga para aquele autista, garantimos uma adaptação, uma inclusão efetiva no longo prazo”, garante. 

Em entrevista ao IstoÉ Sua História, Fábio Coelho dá mais detalhes sobre a Academia do Autismo e sobre o papel da sociedade na inclusão dos autistas. Confira:

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