Reginaldo Boeira criou uma metodologia educacional para ensinar brasileiros a falarem inglês, ele sentiu na pele as dificuldades para aprender outro idioma e sabia que não seria o único a enfrentar essa barreira linguística.    

Nascido em família simples, em Monte Belo, no interior de Minas Gerais, Reginaldo conta que ouviu pela primeira vez outras pessoas falando em inglês, em um radinho à pilha, aos sete anos de idade. 

“Eu estudava de manhã e à tarde até a noite trabalhava na roça, ajudando o meu pai, lembro que em casa ouvia as pessoas conversando rápido no rádio e não entendia nada, não sabia que aquele idioma era o inglês, mas aquilo me encantava muito”, relembra.  

A rotina entre casa, escola e roça fez com que Reginaldo aprendesse desde menino a valorizar a educação. “Naquela época, as crianças estudavam até a quarta série e depois começavam a trabalhar, mas a minha mãe não me deixou abandonar a escola, ela disse que eu não era todo mundo e me fez continuar”, detalha o empresário que ainda afirma “mesmo que para isso, eu precisasse andar mais de três horas para chegar até lá”.

Ao lado dos 10 irmãos, Reginaldo cresceu repleto de objetivos e com o sonho de aprender a falar inglês. Mas ele revela que passou parte da infância e toda adolescência, em São Paulo, depois que a sua família se mudou para Limeira, no interior paulista. “Quando completei 12 anos, minha mãe, que também era uma visionária, decidiu que seria melhor morar em outro lugar, porque meu pai era o único que trabalhava em tempo integral e nós estávamos passando muita necessidade, inclusive fome”, diz.

O anúncio no rádio

O início em São Paulo não foi fácil para Reginaldo, no entanto, foi no interior da capital paulista que o empresário deu os seus primeiros passos como empreendedor e realizou, anos depois, o desejo de estudar inglês.  

Matriculado em escolas de idiomas, Reginaldo lembra que estudou a língua estrangeira por 15 anos, antes de fazer sua primeira viagem para fora do País: “Fui para os Estados Unidos e chegando lá descobri que eu não entendia nada do que eles falavam. Isso me deixou muito decepcionado e bravo”.

De volta ao Brasil, o empresário conta que ouviu um anúncio no rádio que dizia que quem soubesse falar inglês iria se dar muito bem na vida, “aquela frase entrou na minha cabeça, porque era algo que eu gostava, mas fiquei pensando que eu não poderia ensinar da mesma forma que aprendi”. 

A partir daquele momento, Reginaldo decidiu montar uma pequena escola de inglês na cidade e como ele era um empreendedor experiente, apesar da pouca idade, já acumulava sucessos e falências em outros negócios: “Escrevi tudo o que sabia sobre o idioma e passei a dar aulas durante seis meses, mas não evoluiu”.

Conexões que transformam

Frustrado e um pouco perdido, Reginaldo resolveu investir em uma grande viagem internacional, a ideia era viver diferentes culturas e observar como outras nacionalidades aprendiam uma nova língua.  “Eu saí pelos países, comecei pela América Latina e fui até a América do Sul, passei pela Espanha, Alemanha, Rússia, França e cheguei na Suíça”, revela. 

Ao todo, o empresário passou oito meses viajando e procurando por respostas: “Eu já estava ficando triste, porque não conseguia entender como tantos povos distintos absorviam o mesmo conteúdo”, detalha Reginaldo que reforça em seguida, “até que o meu último dia de viagem chegou, eu estava em Zurique, na Suíça, e fui jantar em um dos restaurantes da cidade”.

Naquela noite, o empresário não apenas encontrou a resposta que ele tanto buscava como também achou uma nova oportunidade para empreender.  “Ao meu lado, sentou uma senhorinha, ela era romena e percebeu o meu descontentamento e logo me perguntou o que eu estava fazendo ali, rapidamente, contei um pouco da história que estava vivendo e ela me respondeu”, diz. 

A explicação que ele recebeu da senhora era simples e ao mesmo tempo direta. “Aquelas palavras bateram na minha cabeça, porque ela apenas aprendeu o inglês quando encontrou uma metodologia que ensinava romenos a falarem o idioma”, descreve Reginaldo.

Inglês para brasileiros 

O empresário desembarcou no Brasil certo do que iria fazer, ele passou  dias estudando para criar uma metodologia educacional para ensinar brasileiros a falarem inglês. 

“Eu descobri que nós que falamos a língua portuguesa temos as mesmas dificuldades para aprender, e claro, as mesmas facilidades. Então eu facilitei o que era difícil e acelerei o que era fácil”, afirma Reginaldo.

Com o conteúdo em mãos, o empresário abriu a Sparkle, uma nova escola de inglês, mas agora em São João da Boa Vista, no interior de São Paulo. “Comecei com um aluno, daqui a pouco tinha mais três e assim foi crescendo até que alcancei a marca de cinco escolas em diferentes cidades da região”, comenta. 

Com o crescimento, Reginaldo deu novo passo e levou a metodologia educacional para o sul do País. “Abri uma escola em Itapema, Santa Catarina e em pouco mais de sete meses conquistei mil alunos”, frisa ele. 

O sucesso KNN

A expansão e o sucesso impactaram também na troca de nomes da escola que, em 2012, passou a ser conhecida como KNN, a sigla das palavras ‘Knowledge Now’, que significa ‘conhecimento agora’.  

 Em evidência, a KNN passou a ser procurada por diferentes públicos interessados em abrir uma unidade da escola em outras cidades. Mais uma vez, Reginaldo viu uma oportunidade surgindo em seu caminho, “há um tempo, eu vinha estudando o franchising e achei que era hora de formatá-lo para KNN e começar a trabalhar.”

O método de franquias fez com que a metodologia criada pelo empresário expandisse e levasse a KNN a ocupar lugares de destaque no Brasil. Em 2023, a empresa se tornou a 33ª maior franquia do País, segundo o ranking divulgado pela Associação Brasileira de Franchising, a ABF.

“A KNN é a maior rede de ensino de idiomas do Sul do Brasil e a quinta maior do país, mas estamos trabalhando para chegar à quarta posição bem rápido”, garante Reginaldo.

Do sul ao norte do Brasil 

Hoje a marca KNN está presente em diferentes regiões do Brasil, com mais de 500 escolas abertas, 14 mil colaboradores e na formação de mais de 200 mil alunos, números que comprovam a aceitação e o envolvimento do público.   

 Para Reginaldo, esse resultado é um reflexo de uma estrutura educacional feita exatamente para suprir as reais necessidades dos estudantes: “A nossa metodologia respeita as características individuais de cada aluno e de cada região do País”. 

Com cursos de curta ou longa duração, a KNN também se diferencia pela disponibilidade de cronogramas de estudos. “É possível que um aluno, em três meses, estudando duas horas por dia, de segunda a sexta, desenvolva habilidades para conversar em inglês. Os cursos de formação tem em média de um ano e meio a dois anos, no máximo”, explica o empresário.

Com turmas para diferentes idades, a KNN oferece opções de ensino para mais quatro línguas e atende desde crianças até idosos, “temos alunos de todas as idades hoje, algo bem eclético e dividido, quase dividido em porcentagens iguais”, destaca.    

KNN ultrapassando fronteiras

Há mais de 30 anos no mercado educacional, Reginaldo sente que construiu um negócio sólido e promissor. “A KNN como franquia ainda é muito jovem e tem muito o que crescer, por isso estamos internacionalizando ela, com a abertura de unidades nos Estados Unidos.”

Além da América do Norte, o empresário tem planos de conquistar a América do Sul, com escolas na Colômbia e a Europa com unidades em Portugal. “Estamos visualizando um futuro distante territorialmente,  mas muito próximo de acontecer.”  

Antes da KNN

Dono de uma das maiores redes de ensino de idiomas do Brasil, Reginaldo se tornou um exemplo para muitos empreendedores do País, não só porque ele alcançou o sucesso, mas porque persistiu.

Reginaldo passou por três falências, antes de fundar a KNN e virar o presidente da KNN Group – que engloba empresas como Phenom Idiomas, Boeira Construtora e Incorporadora, além de empresas no ramo de marketing e de contabilidade. “Quando eu cheguei em São Paulo, descobri que só poderia trabalhar quando completasse 14 anos, eu só tinha 12 e tinha pressa.”

Mas a falta de oportunidade não parou o jovem mineiro, ele conseguiu um emprego de empacotador em uma grande rede de supermercado da época, no entanto, ficou apenas uma semana na vaga: “No meu primeiro dia, consegui dinheiro suficiente para comprar dois quilos de arroz e um quilo de feijão e levar para casa, foi um dos momentos mais felizes, mas esse trabalho lá não tinha salário, ganhávamos apenas gorjetas”.

Entre a casa de Reginaldo e o supermercado existiam alguns bares no caminho e ele percebeu que quanto mais próximo o comércio era do centro da cidade, mais opções de doces o lugar oferecia. “Alguns estabelecimentos não tinham nada de doce e eu questionei um dos donos, ele me contou que a distribuidora passava uma vez por semana nos bares e olhe lá”, diz.

Com um pouco de dinheiro e muita criatividade, o empresário teve a ideia de comprar alguns doces da distribuidora e revendê-los para os mercados mais distantes. A iniciativa deu certo e em pouco tempo o empresário abriu a sua própria distribuidora de doces na região.  

Reginaldo trabalhou no ramo dos 12 aos 17 anos até receber uma nova proposta de negócio. “Com anseio de crescer mais profissionalmente, vendi tudo e comprei uma rede com três açougues”, detalha ele, que em seguida afirma “meses depois, eu estava falindo pela primeira vez.”

Frustrado, Reginaldo voltou a trabalhar na distribuidora de doces que ele mesmo fundou, mas desta vez, como empregado, “em três meses juntei dinheiro e comprei a parte dos sócios da empresa”, conta ele. 

De volta ao mercado de doces, Reginaldo seguiu no ramo até receber uma nova proposta de negócio, agora para o ramo da semijoias: “Limeira é a capital da semijoia, então eu fiquei com vontade de investir e tinham pessoas interessadas em comprar a minha distribuidora de doces, por isso vendi.”

Animado, o empresário recebeu vários pedidos e negociou uma grande venda com um único cliente, mas após receber nos primeiros três meses, ele levou um calote e foi à falência.  

O empresário retornou pela terceira vez ao mercado de doces, mas não ficou por muito tempo, ao lado de um dos irmãos, ele investiu no mercado de informática e pela terceira vez, faliu. 

Reginaldo não esconde os momentos difíceis em que viveu e não nega que errou muitas vezes por ambição, “o seu primeiro negócio tem que ser algo que você ame, não faça nada por dinheiro, porque todas as vezes que mudei por dinheiro, eu quebrei”, afirma. 

Mas o empresário também acredita que aprendeu uma lição valiosa através dos negócios que criou: “se você quiser ser feliz, você precisa fazer outras pessoas felizes e isso vale para o dinheiro, se você quiser ‘fazer’ dinheiro, você precisa fazer com que mais pessoas ‘façam’ dinheiro também”.

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Em entrevista ao IstoÉ – Sua História, Reginaldo Boeira compartilhou os detalhes da carreira como multiempresário e o sucesso da KNN Idiomas. Confira a conversa na íntegra:

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