Uma sólida atuação no setor de petróleo e gás fez com que o engenheiro mecânico Márcio Lindemberg desenvolvesse um profundo conhecimento do mercado – e uma mente receptiva ao emprego de novas tecnologias em segmentos tão diversificados quanto finanças e soluções para o agronegócio. Atualmente CEO da Geofex, que criou em 2017, ele conta que essa trajetória ofereceu não só oportunidades, mas também desafios. 

“Eu vim de uma família pobre, e um primo meu indicou que fazer um curso técnico de Mecânica poderia ser uma boa opção de início de carreira. Eu gostei muito da área, já tinha afinidade com números desde pequeno, e então comecei a procurar uma colocação dentro da indústria. Ao mesmo tempo em que cursava Engenharia Mecânica, eu trabalhava em uma usina de produção de álcool e açúcar”. Quando estava prestes a concluir o curso na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), e já com uma família para sustentar, Lindemberg foi atraído por um anúncio da multinacional Schlumberger Serviços de Petróleo, que oferecia uma interessante vaga de emprego. 

O ano era 2001, e a partir daquele momento Lindemberg atuou por oito anos no setor de avaliação e produção de poços de petróleo. “Passei no processo seletivo e aí descobri o mundo do petróleo”, conta, lembrando que por meio do emprego teve acesso a um plano de treinamento da empresa que incluía imersão na França, onde aprofundou seus conhecimentos sobre a área. “Eram dois meses de treinamento intenso, no qual os participantes tinham de tirar uma nota de aproveitamento acima de 75%. Era bem desafiador, mas consegui ficar em segundo lugar.” De volta ao Brasil, Lindemberg passou a atuar em bacias no Rio de Janeiro e na costa dos estados do Nordeste, e adquiriu mais experiência prática. 

Experiência no mercado

O setor de petróleo e gás passou por mudanças significativas nessa época. Alguns anos antes, em 1997, havia sido instituída a quebra do monopólio da Petrobras com relação à exploração e produção de petróleo e derivados no país. A empresa ainda era um importante player no setor, mas agora já era possível que pequenas e médias empresas entrassem no mercado. E isso despertou o espírito empreendedor em Lindemberg. “Fiz uma primeira experiência frustrada, por volta de 1999. Eu abri uma empresa chamada Tecmapred, de tecnologia de manutenção preditiva. A ideia era muito boa, mas não havia crédito disponível para comprar equipamentos – não haviam startups na época, e era muito difícil conseguir recursos nos bancos”, afirma.

Após oito anos na Schlumberger, Lindemberg achou que era o momento de buscar novos desafios – e se tornou diretor de operações na Sigmarhoh Well Testing Services, atuante no setor de petróleo e gás. 

As experiências de Lindemberg fizeram com que ele percebesse que, se por um lado dispunha de sólidos conhecimentos técnicos, por outro ele ainda carecia das chamadas soft skills, ou seja, habilidades no relacionamento com outras pessoas. “Eu era muito voltado às hard skills, muito técnico; sempre gostei de lidar com equações diferenciais, modelagem matemática e engenharia, e por um tempo eu achava isso bastava para alcançar o sucesso. Mas quando comecei a assumir as primeiras posições de liderança de equipes, percebi que tinha uma deficiência a ser superada”, afirma. Ciente disso, passou a prestar mais atenção a esse aspecto, aperfeiçoando-se nas soft skills.

Em seu período na Sigmarhoh Well, Lindemberg contribuiu para que a empresa pudesse experimentar um grande crescimento em seus negócios – mas esse desempenho foi interrompido pela crise causada no setor pela Operação Lava Jato. De acordo com estudos recentes elaborados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), a operação da Polícia Federal que combatia a corrupção no setor de petróleo e gás levou à destruição de 4,44 milhões de postos de trabalho na área. 

Sob este cenário desafiador, diversas empresas acabaram cortando investimentos ou cessando suas operações. “Na época tínhamos contrato com a Petrobras, e fazíamos atividades de exploração em parceria com uma empresa canadense, a Datacan. Mas quando começou a Lava Jato, a Petrobras teve de rever todos os seus critérios de contratação de empresas, e o nosso foi um dos que ficou suspenso. Foi um grande golpe”, avalia.

Novos voos

Essa foi a deixa para que Lindemberg adotasse uma nova estratégia. Ele concluiu o curso de Engenharia Mecânica, que havia sido interrompido quando entrou na Schlumberger, fez um mestrado em Engenharia Química na UFS e uma pós-graduação em Automação, Controle e Robótica pelo Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-Cematec). “Eu tinha que me manter atualizado”, pontua.

Em 2017 chegou a hora de Lindemberg tentar novamente um negócio próprio, criando a Geofex Tecnologias, uma empresa de tecnologias de instrumentação e automação industrial voltada ao segmento de avaliação de poços. Em 2020 a companhia ingressou no mercado de petróleo onshore da região Nordeste ao adquirir parte da carteira de negócios da Sigmarhoh Well.

“Começamos já com uma operação de revitalização de uma instalação industrial. Chamei minha esposa para ser minha sócia e cuidar da gestão financeira – ela tem um viés mais organizado, e eu nunca fui muito bom em administração, como aprendi com a experiência da Sigmarhoh. Se há algo que é tão fundamental quanto o aspecto técnico, a qualidade do produto, do serviço, da plataforma ou do que for, é a administração financeira. E ela tem que ser feita de forma profissional”, ressalta. Para isso, ele e sua esposa se matricularam em um MBA da FGV sobre gestão empresarial.

Essa atenção com a sustentabilidade financeira da Geofex faz com que Lindemberg já esteja planejando a contratação de executivos profissionais para administrar os negócios da companhia. “Estou agora indo para uma atuação como investidor, mais voltado ao desenvolvimento de novos produtos a partir da transformação digital.” Ele conta que está organizando um reality show em Aracaju (SE) para selecionar um executivo júnior para a Geofex. “Já passei também a parte técnica para um gerente, que assumiu nossos contratos em carteira – me liberando para fazer networking e ir atrás de parcerias”, acrescenta. 

Diversificação

Um projeto importante dessa nova fase da empresa é o Oil Spot – uma plataforma de integração de compradores, vendedores e traders de petróleo líquido para o onshore das regiões Norte, Nordeste e Sudeste. Outra iniciativa, essa fora do setor de petróleo e gás, é o desenvolvimento de tecnologias utilizando inteligência artificial (IA) para a detecção precoce de pragas em plantações – reduzindo assim a necessidade de utilização de defensivos agrícolas. “Com isso estaremos protegendo o meio ambiente, melhorando a qualidade dos alimentos e reduzindo as perdas do agronegócio com pragas. Já estamos com o protótipo pronto, e vamos agora divulgar essa solução no mercado brasileiro.” Além disso, Lindemberg também está pensando em tecnologias voltadas ao setor financeiro, como IA, e deverá lançar neste ano a plataforma KIPERAPP, que possibilitará a uma pessoa fora de sua cidade de origem localizar personal trainers

Essa multiplicidade de projetos faz com que a Geofex se torne cada vez mais um hub de soluções para setores diversificados. E Lindemberg ainda encontra tempo para atuar como professor de Engenharia, palestrante e escritor – ele está prestes a lançar o livro Como Formiga entre Elefantes, que conta sua trajetória. “Vivemos hoje em um mundo muito acelerado, e as pessoas pensam que eu sou muito ocupado. Mas eu só me ocupo com algo que tenha total correspondência com o projeto que eu tenha estabelecido. Não fico sofrendo pelo que poderá acontecer na próxima semana. É tudo uma questão de se organizar uma agenda e estabelecer prioridades”, revela.

Em entrevista ao IstoÉ – Sua História, Márcio Lindemberg compartilha sua trajetória. Confira o papo na íntegra:

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