As dificuldades em empreender no Brasil ainda são consideráveis – mas os desafios podem ser superados se a pessoa tiver determinação e vontade de insistir. Este é o caso de Priscilla Kris Ribeiro Sampaio, que hoje tem dois salões de beleza em Minas Gerais, é especializada em alongamento capilar, e comercializa produtos de sua própria marca na internet. Mas a trajetória até chegar ao momento atual foi repleta de dificuldades – desde situações de preconceito racial e assédio sexual até a falta de recursos financeiros para abrir seu negócio. 

Trabalhando desde os 12 anos de idade para ajudar em casa, Priscilla concluiu o Ensino Médio e não viu muitas possibilidades de melhorar suas condições de vida, uma vez que não tinha condições de pagar por um curso em uma instituição de ensino superior. “Minha perspectiva de vida era trabalhar de caixa em um supermercado”, afirma. 

Mas sua tia Ieda, que já atuava como cabeleireira, viu o seu potencial e a inscreveu no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial de Minas Gerais (Senac Minas), onde ela passou a aprender a profissão. Assim, aos 17 anos ela foi a Belo Horizonte: “Passei por muitas dificuldades nesse período. Para poder pagar meu curso no Senac, eu tive que trabalhar numa casa de família: eu tomava conta de uma senhora na parte da manhã e estudava à tarde. E assim foi durante uns dez meses”. 

Priscilla conta que, além da falta de dinheiro, ela teve ainda uma dificuldade adicional: a de enfrentar o assédio por parte do marido da pessoa que ela cuidava. “Eu sofri um abuso ali. E foi bem difícil de continuar. Eu lembro que liguei para o meu pai e falei que queria voltar para a cidade, que não devia continuar. Contei que o homem estava tentando me agarrar. E meu pai falou que eu só voltaria para casa quando tivesse o diploma na mão. Assim, enfrentei mais dois meses nessa situação; eu dormia com uma faca debaixo do travesseiro, para me proteger. Se ele tentasse me agarrar, eu teria como me defender”, lembra.

Graças a uma amiga, que ofereceu sua casa para Priscilla morar até finalizar o curso, foi possível superar mais este desafio. Dessa forma ela pôde voltar para casa com o diploma embaixo do braço, como seu pai queria. O próximo passo foi tentar montar seu primeiro salão de beleza, lá mesmo em Brumadinho. Mas a iniciativa acabou não tendo sucesso na ocasião. “Ao voltar para minha cidade, tentei montar um salão, que durou apenas seis meses. Foi então que eu percebi que não havia muitas oportunidades de crescimento para um empreendimento desse tipo lá naquele momento, e então decidi voltar a Belo Horizonte”, conta.

De acordo com ela, essa fase também foi bastante desafiadora, uma vez que, para se sustentar na capital mineira, Priscilla teve de atuar em diversos salões de cabeleireiros. E percebeu que muitas vezes era preterida por conta do preconceito racial. “Eu era uma excelente profissional, mas recebi muitos ‘nãos’, que eu acredito que eram por preconceito. Eu via que minhas colegas de pele mais clara conseguiam colocações, e eu não. Mas não desisti: fui insistindo, até que consegui um emprego em um salão, no qual fiquei oito meses – e consegui me estabilizar em Belo Horizonte”, afirma. 

Priscilla chegou a morar em uma república com 15 garotas, e trabalhava de dia, enquanto elas faziam o turno da noite. “Quando eu chegava em casa elas haviam acabado com toda a comida! Era difícil, mas enfrentei aquilo por um tempo. Quando vi que o que eu ganhava no salão já não dava para me sustentar naquela cidade, fui trabalhar em uma empresa de equipamentos para construção civil”, lembra. Foi então que Priscilla conseguiu de fato estabilizar sua situação financeira na capital mineira, e poder se dedicar à razão que a levou a Belo Horizonte: montar seu próprio salão. “Eu tinha muita fé e determinação de que iria conseguir.”

O sonho se realiza

O momento chegou em 2011, quando o dinheiro poupado por Priscilla permitiu que ela montasse seu estúdio de beleza no bairro da Pampulha: “Trabalhei direto nos dois primeiros meses apenas para conseguir pagar o aluguel. Passei dificuldades porque o dinheiro estava sempre curto! Mas aos poucos consegui fazer o salão ficar como eu queria, e em um ano ele já estava totalmente reformado, da forma que eu havia sonhado”. E a clientela estava satisfeita com seu trabalho, a ponto de fazer a divulgação boca-a-boca. Em três anos, Priscilla já se sentia segura o suficiente para uma nova empreitada: abrir uma segunda unidade de seu estúdio, desta vez em Brumadinho. 

“Com apenas 23 anos, eu já estava encarando mais um desafio. Durante esse período, eu me especializei em alongamento capilar, e postava nas redes sociais os resultados. Isso atraiu bastante clientela, porque é uma técnica que ajuda muito a autoestima da mulher. Foi um sucesso”, afirma. Ela lembra de uma cliente que havia terminado recentemente seu casamento, e pediu para fazer um alongamento. Fiz, e ela parecia outra pessoa, mais poderosa. Depois de dois meses ela veio fazer a manutenção, e disse que havia retomado o seu casamento. É um exemplo de como a autoestima trazida pelo alongamento pode ajudar no empoderamento de uma mulher”, avalia.

Mas Priscilla queria empreender mais – e o passo seguinte foi criar uma linha de produtos própria, a Priscilla Kris Beauty. “Sou muito apaixonada por esse ramo. E eu vejo que eu trago a autoestima para as mulheres. Não havia nada para alongamento no mercado. Então eu o desenvolvi, com uma empresa, e foi possível desenvolver um produto específico para alongamento capilar, com a minha marca”, conta, acrescentando que busca sempre trazer alguma inovação, acompanhando as tendências do mercado e as necessidades e desejos de suas clientes. 

Novos desafios

Com o fim da década, Priscilla teve de lidar com o rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho, em janeiro de 2019; com o fim de um relacionamento de 14 anos; e com os efeitos da pandemia de Covid-19 sobre seus negócios. “Foi bastante difícil. Veio tudo de uma vez: a tragédia em Brumadinho, a minha separação e a pandemia. Vi muitos amigos meus fechando as portas naquele período. A saída foi trabalhar como era possível.  Não havia dinheiro, a energia elétrica chegou a ser cortada por falta de pagamento. Eu achei que iria ter que fechar as portas”, afirma.

 Foi então que Priscilla viu que era necessário acrescentar conhecimentos de administração para poder superar esse momento desafiador. “Tive de estudar bastante para conseguir lidar com toda essa burocracia de se ter um negócio. Mas a palavra ‘desistir’ não era uma opção para mim, e eu continuei, com muita vontade de vencer”, conta.

Com muito esforço, ela conseguiu superar mais esse desafio em sua trajetória, e os próximos anos assistiram ao aumento da sua clientela. Um importante fator nessa história foi a dedicação de sua equipe, que tem no estúdio uma oportunidade não apenas de trabalho, mas de crescimento profissional. “Muitos têm no salão sua principal fonte de renda. Todos estão focados em dar o melhor de si, em proporcionar o melhor atendimento aos nossos clientes. Busco passar a eles todo o meu conhecimento – e eu também aprendo com eles.”

O futuro, para Priscilla, é continuar avançando com a venda de seus produtos via internet. “Hoje a internet domina o mercado. Por conta disso, estou desenvolvendo um site para atingir a um outro público, online, que está cada dia maior. Também uso o Instagram como uma importante ferramenta de divulgação para o empreendedor hoje em dia”, diz. 

Em entrevista ao IstoÉ – Sua História, Priscilla Kris compartilha sua trajetória de superação. Confira o papo na íntegra:

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