A trajetória de Eder Carlos Dalberto é um exemplo do poder transformador da educação e do empreendedorismo. Inspirado pela sua própria experiência na gestão da educação municipal, Eder criou o SIGEMEC, sistema de gestão, monitoramento, execução e controle que tem impactado a forma como os municípios brasileiros acessam e utilizam os recursos federais destinados à educação. Com conhecimento técnico e vivência no setor, o profissional capacita gestores municipais, facilitando o acesso aos recursos e promovendo o desenvolvimento educacional em todo o país.

Natural de Putinga, no Rio Grande do Sul, Eder é filho de agricultores e, mesmo inserido no contexto do campo, já tinha vontade de empreender desde muito jovem. “Eu não sabia como. Então, estudei e busquei uma vida melhor para mim e para minha família”, conta. Depois de ter feito ensino fundamental em sua comunidade e ensino médio na cidade mais próxima, Eder escolheu seguir carreira na área da educação, e fez Licenciatura em ciências físicas e biológicas na UNISC – Universidade de Santa Cruz do Sul, Bacharel em  ciências contábeis pela UNITINS e atualmente cursa Bacharel em Direito Brasileiro pela AMBRA UNIVERSITY  de Orlando na Flórida.

Professor formado, Eder foi atuar no ensino médio ao mesmo tempo em que buscava melhorar ainda mais suas qualificações com pós-graduações em diversas áreas, como Mídias na Educação com Metodologias de Ensino e Aprendizagens. Em 2012, seu trabalho como docente rendeu um convite para estar à frente da Secretaria de Educação do município como Dirigente Municipal de Educação, o que se mostrou uma tarefa extremamente desafiadora, mas que seria a semente do que é seu trabalho como empreendedor atualmente.

Eder conta que, logo no começo, percebeu que atuar na sala de aula era uma experiência muito diferente de trabalhar com administração pública de ensino. “Naquele momento foi um desafio bem grande para mim. Acabei aceitando, sendo ‘convencido’ de estar lá. E também porque eu acredito que a educação pode contribuir muito”, afirma. O profissional conta que seu dia-a-dia mudou drasticamente. “Na sala de aula, você aprende o que precisa ser feito, você separa o conteúdo, prepara as aulas e aplica junto aos alunos. Já na Secretaria da Educação são tomadas decisões. Eu acredito que aceitei sem saber”, brinca. O primeiro ponto do novo trabalho que chamou sua atenção foi a parte financeira do município, tópico que Eder mal sabia, mas mudaria toda sua relação com seu trabalho.

Ao se deparar com as contas e verbas públicas destinadas à educação, se viu tomado por um sentimento de curiosidade e empenho em saber como tudo funcionava. “Queria entender como os recursos chegavam até o município, já que 25% do orçamento total é destinado para a educação. Queria entender como era feito o pagamento de professores, contratações, e assim por diante. Eu sempre fui muito curioso; para mim, ter curiosidade é fundamental para o sucesso, você tem que ter curiosidade em relação a tudo o que você faz, por menor que seja”, afirma.

Depois de se debruçar sobre os pormenores da administração pública da educação no município, Eder notou que muitos de seus colegas dirigentes de educação também tinham dificuldades em relação ao tópico. “O principal desafio na secretaria é buscar recursos federais. Como buscar esses recursos para projetos para o município. Isso é uma coisa que as pessoas nem pensam sobre. Muitas pessoas que estão à frente da secretaria de educação acham que o governo federal manda recurso e ponto. Eu não me contentava com essa parte de só receber o recurso que vem, que é um recurso constitucional, eu queria buscar mais, fazer mais pelo município”, afirma.

Para isso, Eder passou a estudar e conhecer melhor os programas do Governo Federal, para poder habilitar o município e preencher os pré-requisitos para receber esses fundos. “Hoje em dia é uma área mais técnica, de diagnóstico do município, registros  e assim por diante. Antigamente eram feitos por editais, mas o trabalho não é mais dessa forma”, explica. Logo, o profissional começou a cadastrar seu município em todos os programas dos quais era elegível, ou seja, que preenchia os pré-requisitos.

Em 2013, um novo projeto destacou seu trabalho e impactou de forma muito significativa o ensino da região. “Conseguimos um computador por aluno. Imagine que naquela época não era como hoje. Era bem diferente em relação à tecnologia. Hoje, qualquer criança de 9, 10 anos, já tem um celular com internet. Então, eu busquei esses projetos para incentivar o aluno e também ter mais tecnologia na sala de aula”, ressalta. “Esse foi um projeto principiante que deu um estalo na minha concepção”, diz.

Empreender na vocação

Enquanto trabalhava na secretaria da educação, Eder, que tinha outros negócios, se viu em um momento conturbado ao tentar administrar várias demandas de forma concomitante. “Foi bastante difícil. Eu tinha vários comércios com várias atuações, como lotérica, loja de informática. Foi um período turbulento porque eu me dediquei muito ao município e à prefeitura e acabei falindo”, relata. O empresário conta que em um dos treinamentos que participou, uma pergunta o fez questionar sobre seus planos profissionais. “O palestrante me perguntou: ‘O que você faz bem feito? Se dedique a isso’. Essa fala me tocou profundamente”, conta. O primeiro esboço de seu negócio próprio foi feito em uma cartolina na volta para casa.

Nos dois anos seguintes, Eder colocou sua ideia em prática, mesmo que isso significasse recalcular sua rota. “Fui contra tudo e contra todos. Eu tinha uma vida estável. Um concurso efetivo no estado do Rio Grande do Sul. Trabalhava no município. Me exonerei nas duas esferas, municipal e estadual. Fui à beira da falência, vendi tudo o que tinha conseguido conquistar para poder pagar as contas e ainda sim fiquei com 2 milhões de dívida”, relembra. Mesmo indo contra o senso comum, Eder confiava em sua visão e colocou em prática seu plano.

Em 2016, surgiu o SIGEMEC, Sistema de Gestão, Monitoramento, Execução e Controle. Seu objetivo era fornecer para outros municípios assessoria, além de capacitar e orientar as prefeituras a executarem novas ações e projetos educacionais. “Entendendo o que acontece do outro lado, conseguimos mostrar as soluções para os municípios”, defende. Em pouco tempo, a empresa estava recebendo contatos de municípios interessados em todo o Brasil sem ter feito nenhum tipo de publicidade, apenas no “boca a boca”.

Atualmente, o SIGEMEC atende as necessidades das prefeituras em relação à assessoria, consultoria, orientações técnicas, em tempo real, sobre o Planejamento de Ações, Execução de Programa e Prestações de Contas, que visam facilitar o cadastramento de projetos nas buscas de recursos federais para o município. A equipe emite comunicados, orientações técnicas de cada programa existente, além de fornecer informações exclusivas sobre o passo a passo de como solicitar novos projetos, de como prestar contas de cada ação, além de disponibilizar de um canal exclusivo para Suporte Técnico sobre projetos e programas disponíveis nas plataformas federais, como a Plataforma +Brasil, FNS/SISMOB, SIGARP, ou seja todos os programas e sistemas do FNDE, MEC.

O sistema SIGEMEC em si também aproxima e facilita a comunicação interna entre os  técnicos municipais responsáveis pelos programas, dirigentes municipais e/ou diretores, chefia, etc, com recebimento de informações e orientações técnicas de diversos programas e setores. “Esse conhecimento técnico específico fez com que a gente tenha conquistado 17 estados brasileiros”, comemora. “Alcançamos, junto com os municípios, mais de 2 bilhões de reais, em um curto espaço de tempo, de projetos cadastrados, aprovados e pagos”, complementa. O sistema atende mais de 250 municípios entre projetos e consultoria mensal.

Eder também destaca a atuação intensa de sua equipe em incentivar o uso do PAR, que é o Plano de Ações Articuladas, uma estratégia de assistência técnica e financeira, suplementar e voluntária, do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e do Ministério da Educação (MEC), que tem como objetivo aprimorar a educação básica pública brasileira. “O PAR é um sistema que recebe todas as informações e o diagnóstico real do município. E a grande dificuldade desses municípios é fazer o diagnóstico demonstrando a realidade. Pelo nosso sistema de consultoria, os técnicos dos municípios têm oportunidade de registrar ‘suas dores’, onde há problemas, para que o Ministério da Educação possa destinar políticas e recursos para essa finalidade”, explica.

O PAR é um instrumento de extrema importância que deve fazer parte do dia-a-dia dos municípios. “Você vincula as metas, as ações, essas demandas, ao Plano Nacional de Educação e obviamente ao Plano Municipal de Educação. […] Depois você faz a solicitação de material tecnológico, material de custeio, infraestrutura, construção, reforma, quadras esportivas. Você registra tudo ali, porém, ele é muito complexo. Tem milhares de indicadores que devem ser preenchidos e ali é que existe uma demanda e uma lacuna bastante deficitária. Ali onde nós entramos, nessa parte técnica de auxiliar os municípios a fazer um planejamento completo, que não é feito do dia para a noite, porque é articulado com o Censo Escolar, com o PDDE Interativo (ferramenta de gestão escolar), e todos os programas federais”, explana.

O PAR é o canal principal de entrada de recursos no município, por isso, seu preenchimento correto impacta diretamente no sucesso dos projetos e ações. “O maior desafio dos municípios é exatamente essa dificuldade em registrar suas necessidades. Na área da educação, muitos profissionais que são requisitados na secretaria são excelentes profissionais na sala de aula, mas precisam de muita capacitação e entendimento para atuar na secretaria”, diz.

Em entrevista ao IstoÉ Sua História, Eder Carlos Dalberto fala mais sobre a atuação do SIGEMEC, cases de sucesso e planos para o futuro. Confira:

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