Funcionalidade e estética sempre foram os dois fatores principais ao se projetar uma casa, um prédio ou qualquer outra edificação – além, claro dos fatores técnicos, como materiais de construção ou engenharia. No entanto, de alguns anos para cá têm sido mais estudados os efeitos do formato das construções, do uso da luz ou das características acústicas sobre os seres humanos, inclusive em nível subconsciente. Esses fatores têm sido cada vez mais levados em consideração na hora de desenvolver um projeto. 

No Brasil, o pioneiro nessa área é o arquiteto e urbanista Lorí Crízel, que divide sua atuação entre a gestão dos projetos no Brasil e no exterior, a atividade acadêmica e a participação em diversas publicações mundiais dedicadas ao tema, além de presidir a Academy of Neuroscience for Architecture (Anfa) no Brasil. Em 2020 ele escreveu o primeiro livro sobre o assunto no país: Neuro Arquitetura | Design | Iluminação: Pressupostos da Neurociência para a Arquitetura e a Teoria Einfühlung como Proposta para Práticas Projetuais.

Segundo ele, a neuroarquitetura é uma abordagem interdisciplinar que abrange conceitos, estudos e pesquisas científicas relacionadas à forma como as pessoas respondem sensorialmente a estímulos do ambiente. 

“Trata-se da neurociência, que é o estudo científico sobre os mecanismos de funcionamento do cérebro humano, aplicada à arquitetura. É uma forma de entender como os espaços, fechados ou abertos, acarretam respostas comportamentais nas pessoas. A neuroarquitetura está muito relacionada à qualificação da experiência, à saúde mental e ao conforto”, explica, ressaltando que ela une elementos estéticos e técnicos (como o uso de materiais) à compreensão da ciência comportamental. 

Experiência internacional

A trajetória de Crízel nesse campo de atividade decorreu de sua atração pela arquitetura. “Estamos falando de algumas décadas atrás, quando nós não tínhamos acesso à informação que temos hoje. Naquele momento, alguns edifícios se tornaram ícones mundiais, e isso gerava em mim um grande questionamento. Diante de tantas obras que existem e que existiam, por quê aqueles prédios saíam em revistas, viravam referências não apenas para quem é da arquitetura, mas também para a população de modo geral? E eu sempre quis entender como que eu, naquele momento estudante de arquitetura, poderia chegar a isso também. Ainda durante a graduação era muito nítido para mim que eu teria um pé no mercado de trabalho e outro na vida acadêmica”, conta. 

Foi a partir daí que ele fez mestrado, e passou a se interessar pela área de conforto ambiental, que lida com questões térmicas, acústicas e de iluminação, tratando diretamente com a percepção humana: “Ao final do mestrado tive a oportunidade de morar fora do país e poder trabalhar com renomados escritórios de arquitetura, e me deparei com o universo projetual – ou seja, aquele em que o projeto começava não pelo terreno ou pelo traço ou forma, mas por um grande questionamento: como podemos emocionar as pessoas? Como um edifício poderia se conectar com as pessoas?”.

Esses questionamentos levaram Crízel a se aproximar da neuroarquitetura, e a aprofundar seus conhecimentos sobre essa área – que ganhou um impulso em 2003, com a criação, nos EUA, da Anfa. Hoje Crízel se dedica ao seu doutorado em Neuroarquitetura, o qual será a primeira titulação deste nível no país.

De volta ao Brasil, dá prosseguimento a seu plano de atuar tanto no mercado quanto na academia. E aproveita sua experiência internacional para levar seus alunos a programas de imersão em grandes escritórios internacionais, de forma a mostrar as tendências mais modernas na arquitetura. “Há cerca de 12 anos fui convidado por uma grande instituição no Brasil, o Instituto de Pós-Graduação & Graduação (Ipog), para assumir a coordenação dos cursos de especialização nas áreas de arquitetura, design e iluminação”, conta. 

Espaços e saúde mental

Um marco na percepção de como a neuroarquitetura poderia contribuir para o bem-estar e a saúde mental das pessoas foi a pandemia da Covid-19, em 2020. Nesse momento, em que uma das principais formas de evitar o contágio e disseminação do vírus era o isolamento social, os benefícios da neuroarquitetura tornaram-se mais evidentes. 

“Quando enfrentávamos o momento inicial da pandemia, se percebeu o quanto a neuroarquitetura de fato poderia ajudar as pessoas. Passamos por um período de confinamento compulsório; e naquele momento a maioria das pessoas percebeu que o ambiente no qual habitavam de fato não os representava. Antes da pandemia imaginávamos as casas como tendo a área social, a área íntima e a área de serviços. Quando veio a pandemia, foi necessário redescobrir a casa, reordená-la. E naquele momento muitas pessoas perceberam o quanto um ambiente pode ser acolhedor ou adoecedor”, pondera. 

Foi nessa ocasião que o Ipog solicitou a Crízel que desenvolvesse uma especialização voltada à neuroarquitetura. E, paralelamente, ele vinha sendo cobrado por colegas para que disseminasse seus conhecimentos na área a um público mais amplo – e então surgiu a ideia de escrever o primeiro livro sobre o assunto no Brasil. Em Neuro Arquitetura|Design|Iluminação, Crízel aborda diversos aspectos da neuroarquitetura – desde sua definição, à luz da psicologia ambiental e da neurociência, até a construção de técnicas e dinâmicas de composição dos espaços. 

“Esse é um momento que, além da pandemia, do curso e do lançamento do livro, verificou-se uma confluência de fatores que fez com que a neuroarquitetura eclodisse no Brasil. Aí começa a se falar muito sobre isso, sobre a salubridade dos espaços, sobre a identidade, pertencimento e acolhimento espacial”, diz. 

Disseminação de conhecimentos

Lançado em 2020, o primeiro livro de Crízel é, segundo ele, “um grande compilado sobre tudo aquilo que envolve neuroarquitetura, neurodesign e neuroiluminação”. E novas obras estão a caminho: “Dentro de alguns meses deve chegar o segundo livro, escrito em parceria com a doutora em psicologia Marivania Cristina Bocca, e que tratará da parte holística da neuroarquitetura. E, logo a seguir, provavelmente entre o final deste ano e o início do próximo, vem o terceiro livro, com uma visão mais científica e instrumental”, afirma.

O papel de Crízel na disseminação da neuroarquitetura, além de seu conhecimento profundo na área, acabaram lhe valendo um convite para atuar oficialmente como professor no POLI.Design do Instituto Politécnico de Milão, na Itália – uma das mais conceituadas instituições mundiais em arquitetura, design e iluminação. “Além disso, em 2022 tive a honra de ser chamado a presidir a Anfa no Brasil, em parceria com a também pesquisadora na área, Andréa de Paiva. Agora estamos buscando disseminar o conceito de forma mais forte no país, dando condições para que todos os colegas da área – não só arquitetos, mas também do design, da iluminação e do urbanismo – possam se utilizar das ferramentas e conhecimentos que têm sido gerados desde a criação da associação”, afirma.

Paralelamente a essa trajetória acadêmica, Crízel também é CEO de um escritório próprio, o Lorí Crízel Arquitetos + Partners, e atua como senior consultant no escritório de arquitetura e projetos AKMX, cuidando de um núcleo específico de neuroarquitetura, o Neuro.Bio.UX, além de também assumir o cargo de CEO do Instituto Neuro.Bio.Design no Brasil, em conjunto com as pesquisadoras Catharina Macedo e Julia Fernandes. 

Em entrevista ao IstoÉ – Sua História, Lorí Crízel fala sobre sua trajetória na área da neuroarquitetura. Confira o papo na íntegra:

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