A luta contra o Alzheimer é uma batalha complexa que afeta mais de 44 milhões de pessoas em todo o mundo. Alvo de estigma e desinformação, a doença é realidade para mais de 1 milhão de brasileiros, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Depois de um diagnóstico na família, Rosângela Haydem se debruçou sobre o assunto e se tornou especialista em diferentes aspectos da condição, principalmente no que se refere aos métodos de prevenção. Seu trabalho também lança luz sobre os desafios únicos enfrentados pela comunidade médica e pelos pacientes no contexto brasileiro.

Apesar de estudar sobre o Alzheimer por mais de uma década, Rosângela não começou sua vida profissional com foco na ciência, mas sim no Direito. Natural de Manaus, capital do Amazonas, ela se formou como advogada pela Universidade Veiga de Almeida, no Rio de Janeiro, e atuava na área. Porém, quando sua mãe foi diagnosticada com a doença, em 2014, a vida da profissional mudou completamente. “Naquela época, não tínhamos a informação que temos hoje. Quando a minha mãe foi diagnosticada, eu senti uma dificuldade muito grande para ter acesso a essas informações. O que é que faz agora? É só tomar medicação? Então, comecei a estudar sobre a doença”, relembra. 

O Alzheimer é a forma mais comum de demência neurodegenerativa em pessoas de idade. Por ser uma doença progressiva, seu avanço destrói a memória e outras funções mentais importantes ao degradar as conexões das células cerebrais e as próprias células, que se degeneram e morrem. A perda de memória e confusão são os principais sintomas. “No estado final, a pessoa perde totalmente a capacidade de discernimento. Não lembra nem quem é, muito menos quem são os filhos”, detalha. O Alzheimer em si não mata, mas suas complicações podem ser fatais, como a deterioração do sistema respiratório. 

Por conta da dificuldade em acessar informações, Rosângela se debruçou sobre o assunto e sentiu a barreira que existia para o cidadão comum em acessar as mais novas descobertas da época. “Me deparei com a dificuldade que, como filha, eu não conseguiria entrar nos centros, laboratórios, centros de pesquisa, nem falar com cientistas. Só com os médicos, durante as consultas da minha mãe”, diz. Por isso, ela resolveu estudar o tema e se formou em Neurociência pelo Centro Universitário Internacional (Uninter).

Com uma guinada na vida profissional, e agora inserida no contexto científico, Rosângela pôde entender melhor os pormenores da doença. “É muito interessante, porque quando eu decidi fazer esse curso, eu só queria o título para ter acesso aos lugares que eu não tinha. Mas vi que ele era muito importante, porque a neurociência estuda o cérebro como um todo”, explica. E por isso, um dos seus enfoques é a prevenção e formas de exercitar e estimular esse órgão, já que o tratamento para Alzheimer é multidisciplinar. 

A profissional explica que a doença é misteriosa e ainda não se sabe suas causas, apesar de existem hipóteses. “São 120 anos pesquisando a causa. Muitas teorias foram descartadas. Uma delas é quanto maior o grau de instrução de uma pessoa, mais ela estaria afastada do Alzheimer, porque o cérebro teria maior atividade. Isso foi descartado. O grau de instrução não é mais tão relevante. Há muitos diagnósticos de mulheres, doutoras com terceiro grau, que estão sendo mais precoces. O que mulheres nesse nível de educação têm em comum? O sedentarismo”, revela, se referindo a mulheres por conta do diagnóstico ser mais comum entre elas.

Ela explica que não é só manter o corpo parado que aumenta as chances da doença, mas rotinas repetitivas também têm seu papel, no caso de estudiosos. “A pessoa passa muito tempo estudando, muito tempo parada. Só o cérebro está trabalhando. Mas não é só isso. Quando a gente estuda, a gente está focado só em uma coisa. Esse é o problema. Não é só uma área que precisa ser atingida. Todo o cérebro precisa de comandos, de esforço. Então, por isso que o sedentarismo é um dos maiores fatores de risco”, completa. Outros velhos conhecidos também são grandes fatores: doenças cardíacas, diabetes, tabagismo, obesidade, consumo de álcool, pressão alta e colesterol alto. 

Tratamento e prevenção

O Alzheimer não tem cura. Mas, isso não significa que não há tratamento. Com as tecnologias e informações disponíveis, é possível que um paciente experiencie uma qualidade de vida por mais de 15 anos após o diagnóstico, dependendo do nível de avanço da doença não tratada. “Minha mãe está há 14 anos no mesmo estágio. Na minha pesquisa, conseguimos aplicar técnicas de música e outras atividades cognitivas. Minha mãe foi costureira. E a gente a incentiva a fazer seus panos de prato. A cada ano, vai diminuindo a capacidade de criação. Hoje ela só faz as bordas, coloca um enfeitinho. Mas ela já fez panos maravilhosos no passado. A gente continua incentivando essa produção”, exemplifica Rosângela. 

A profissional explica que o mais importante é a mudança de estilo de vida o quanto antes. “Se bebe, nunca mais irá beber. Se fuma, nunca mais. Se não faz atividade física, tem que começar a fazer. Isso é o principal remédio. O mais importante são as providências práticas. Porque a demência é certa. E, quando demente, o paciente não tem capacidade nenhuma de fazer absolutamente nada”, afirma. Além da mudança de estilo de vida, medicações mais recentes também ajudam a manter a doença sob controle. “O Leqembi é um remédio dos Estados Unidos que levou 20 anos para ser feito. Ele garante a estagnação da doença no estágio inicial. Com ele, é possível ter uma vida social mais prolongada. Mas, todos os estudos são unânimes sobre como a melhor maneira de controlar a doença é com mudança de estilo de vida”, afirma. 

Além da mudança dos hábitos, há informações específicas sobre atividades que também podem frear o avanço da doença. “Existe um estudo na Finlândia que diz que a atividade física é o item mais importante, principalmente atividades aeróbicas. Em segundo lugar fica a alimentação, que deve ter muitas frutas vermelhas, folhas, peixes e castanhas”, diz. Outro item de extrema importância é a atividade cognitiva. “Pode ser aprender um instrumento, aprender uma língua estrangeira, fazer aulas de canto, de teatro. Mesmo se não estiver mais trabalhando, tem que estar fazendo alguma outra coisa”, explana. 

Outro aspecto fundamental são as atividades sociais. “Tem que sair de casa, ir para a igreja, academia, culto, grupo, qualquer coisa que outras pessoas possam te observar. Quem vai apontar os primeiros sinais são as pessoas próximas, mas que são de fora, o familiar não vai se atentar para isso, porque é muito gradativo”, diz. Além disso, o sono é um item de extrema importância para a manutenção de níveis normais de hormônios e impacta na prevenção de várias doenças, não apenas o Alzheimer. “Temos que entrar em um estágio profundo de sono das 22 horas até as 2 da manhã. Esse é o período que o cérebro se regenera. Se você não entrar nesse estágio nesse período, mesmo fazendo técnicas de apagar todas as luzes, não ficar no celular, e mesmo assim não conseguir dormir com qualidade por dez vezes dentro de um mês, já é um sinal de alerta”, diz. 

A escrita como tratamento

Um dos objetos de estudo de Rosângela é o uso da escrita como forma de prevenir e tratar o avanço do Alzheimer. A especialista explica que é preciso reintegrar o hábito em nossas vidas, anotando tanto detalhes simples, como registro de sono, quanto compromissos e outros itens que possam ser esquecidos. “Falo para todas as pessoas

que tenho a oportunidade. Tenha um caderninho na mão. Até as coisas que você achar mais idiotas, anote”, aconselha. Ela explica que deve ser anotado inclusive os casos de esquecimentos, para poder contabilizar o quanto eles estão acontecendo. “Se você anotou mais de dez coisas diferentes no mesmo mês e tiver uma idade avançada, a partir dos 50 anos, também é um sinal de alerta”, orienta. 

Além de fornecer ajuda para lembrar itens e contabilizar esquecimentos e hábitos, a escrita a mão é uma ferramenta poderosa de estímulo cognitivo que pode retardar o avanço de pessoas que já têm Alzheimer. “Fui pesquisar quais são as áreas do cérebro que ativam com esse movimento. Cheguei a incrível conclusão de que quando nós escrevemos à mão, mexemos com todo o córtex cerebral, com o lobo frontal, lateral, a gente mexe com todo o cérebro”, respalda. A especialista explica que escrever pelo celular não substitui a atividade, já que estimula o cérebro de forma diferente e menos complexa. 

Segundo estimativas da Alzheimer’s Disease International, os números de pessoas com a doença poderão chegar a 74,7 milhões em 2030 e 131,5 milhões em 2050, devido ao envelhecimento da população. Esse cenário mostra que a doença caracteriza uma crise global de saúde. “Os outros países, França, Canadá, Japão, estão se preparando para esse cenário, mas não o Brasil. Isso é uma questão de saúde pública”, justifica. 

Em entrevista ao IstoÉ Sua História, Rosângela dá mais detalhes sobre seus estudos, fala sobre seu futuro livro sobre o tema chamado “Uma Jornada de Amor e Ciência Contra o Alzheimer”, além de falar sobre tratamento com cannabis e outros tratamentos. Confira:

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