Empenho em empreender e resiliência para enfrentar desafios. Essas duas características descrevem o advogado Waldenes Barbosa, que há trinta anos vem atuando em diversos negócios – sempre acumulando experiência que seriam úteis na empreitada seguinte. Nascido em Macapá, capital do Amapá, ainda bem jovem abriu uma videolocadora, a CD Shop Vídeo, no início da década de 1990. Logo venderia o negócio e se dedicaria a uma lanchonete, a Mosaico.

“Ela fez muito sucesso em Macapá. Oferecemos um cardápio diferente, um atendimento diferente. Isso fez com que tivéssemos filas de carros aos domingos, aguardando uma mesa”, conta Barbosa. Mas a vontade de empreender era muito forte, e em pouco tempo ele entrou em sociedade para administrar uma casa noturna, a Labirinto. “Ela não tinha movimento algum naquela época. Quando assumi, fiz uma campanha de divulgação com distribuição de flyers, que davam direito à entrada grátis. A casa lotou – e conseguimos levantar bastante dinheiro com a venda de bebidas. Como resultado, em uma semana a casa concorrente fechou.”

Essa atividade durou nove meses, nos quais Barbosa conseguia lotar a casa todo fim de semana – e a Labirinto passou a dominar a vida noturna de Macapá. No entanto, a crescente ingerência de seu sócio no dia a dia da casa noturna acabou levando Barbosa a outros desafios. 

Novos horizontes

Outro empreendimento de Barbosa na década de 1990 foi a construção do único cinema existente na época na capital amapaense – o Cine Imperator. A essa altura, seu conhecimento do empreendedorismo já havia se enriquecido pelas experiências anteriores. “Eu viajava bastante, e em uma dessas ocasiões fui a um cinema em Brasília. E pensei que Macapá poderia também ter um”. Em São Paulo, entrou em contato com um distribuidor de filmes e foi atrás de um projetor. “Voltei para Macapá com esse projeto, aluguei uma loja perto do aeroporto, quebrei o piso e comecei a construir lá o Cine Imperator, que iniciaria suas atividades exibindo filmes como o primeiro Toy Story e Seven – Os Sete Pecados Capitais”, relembra. Quando já havia construído mais da metade do cinema. Barbosa percebeu a necessidade de contar com um sócio, o que viabilizou a conclusão da obra. 

Ele lembra que, naquela época, Macapá estava há anos sem uma sala de projeção, desde que o último cinema havia fechado, no final da década de 1980. “A inauguração foi um sucesso estrondoso; as pessoas tinham que se sentar nos corredores!” Alguns meses depois, contudo, um desentendimento com seu sócio acabou finalizando a sociedade, e Barbosa saiu da parceria completamente sem dinheiro e com dívidas. “Após finalizada a situação, sentei com o meu advogado Nildo Leite e falei: o que vou fazer da minha vida? Nesse momento ele me fez uma oferta: trabalharia no escritório dele e em troca de auxílio jurídico naquele momento difícil. Eu sempre pensei em um dia ser advogado, mas comecei a empreender e deixei esse sonho de lado – eu só tinha o ensino médio naquela época.” 

Barbosa aceitou – e a partir daí começou a aprender e tomar gosto pelo Direito. Ele passou a atuar no escritório de seu advogado, e começou a criar familiaridade com a rotina das audiências. “O Nildo me colocava nas conversas com os clientes, e eu fui tomando gosto pela coisa. Em 1997, decidi fazer o vestibular para estudar Direito na Faculdade Gama Filho, e passei. Foi um período desafiador, de muito sacrifício, sempre renegociando as mensalidades. Mas me dediquei totalmente aos estudos, ao mesmo tempo em que levantava recursos com o aluguel de um videoquê lá no Rio.”

Logo concluiria o curso, passaria com facilidade no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e voltaria a Macapá. Em pouco tempo viria uma oportunidade única: representar um cliente que estava sendo alvo de uma operação da Polícia Federal. “Ele tinha um advogado famoso que não estava disponível quando a operação aconteceu. Então ele me ligou, às seis da manhã. Peguei o caso e, poucos dias depois, consegui libertar esse cliente. A partir desse momento fiquei reconhecido em Macapá como advogado, e fui avançando.” Ao mesmo tempo, Barbosa retomou as operações do Mosaico, que nessa etapa chegou a ganhar um prêmio do Sebrae a nível nacional. 

Foi nesse momento que Barbosa se reconheceu como alguém com uma compulsão em empreender. “Qualquer negócio que me ofereciam, eu entrava. Cheguei a comprar uma empresa de contêineres de lixo, um caminhão para atender empresas seguradoras de automóveis, montei um loteamento. E, como resultado deste último, acabei quebrando pela segunda vez”, conta. A partir daí ele se dedicaria totalmente à advocacia, e levaria cerca de uma década para quitar todas suas dívidas. 

Um novo começo

Bem-sucedido em sua carreira com o advogado em Macapá, Barbosa começou em 2018 a montar um grande escritório, no local onde funcionava o Mosaico – e foi aos poucos voltando ao mundo do empreendedorismo. Reconhecido na cidade, inclusive tendo sido presidente da Comissão de Relações Institucionais da OAB-AP – em 2020 Barbosa respondeu pela assessoria jurídica de Patrícia Ferraz (Podemos), então candidata à prefeitura de Macapá. E voltou a investir em casas noturnas e restaurantes. “Sempre empreendi sem medo de ser feliz. Na maior parte dos empreendimentos que eu montei, eu era a pessoa mais importante na execução do negócio – e não necessariamente o dono. Eu era o cara que fazia”, afirma.

Mas um novo desafio bateu à sua porta. Na época, o escritório atendia empresas terceirizadas que atuavam em diversas áreas relacionadas à saúde. Uma delas tinha uma empresa de alimentação hospitalar em Brasília que passava por problemas jurídicos sérios – e propôs que Barbosa a assumisse. Foi então, em março de 2022, que ele foi à empresa e se inteirou da situação: ela tinha uma dívida de mais de R$ 20 milhões. Não teve dúvida: mudou-se para a capital federal e encarou a situação. “Os primeiros 40 dias foram bem difíceis, chegando a ser colocado para fora do contrato por 90 dias, voltando por decisão judicial. Após ir à Justiça, foi possível negociar com os fornecedores e reequilibrar os contratos, com intervenção do Ministério Público do Distrito Federal. Hoje somos uma empresa com 600 funcionários diretos e mais 300 indiretos, que fornece mais de 11 mil refeições por dia para toda a rede pública do Distrito Federal– atuando também com dietas especiais.”

Atualmente Barbosa deslocou sua base de operações para Brasília, a fim de ficar mais próximo do dia a dia da empresa – mas mantém seu escritório de advocacia em Macapá, para onde vai todos os fins de semana para ficar com a família. Apesar dessa rotina movimentada, ele continua sempre buscando novas oportunidades de negócios. “Às vezes as pessoas acham que empreender é montar um negócio e vender um produto ou serviço. Mas é necessário calcular os riscos. Além disso, quem é bem-sucedido tem uma retaguarda de fracassos também – e são eles que fazem a gente pisar no chão com mais força, que nos dão a experiência necessária para seguir em frente. Se tenho algo de muito importante na minha carreira de empreendedor e empresário, são os meus fracassos. Eles foram tão importantes quanto as vitórias que eu tive”, finaliza.

Em entrevista ao IstoÉ – Sua História, Waldenes Barbosa detalha sua trajetória cheia de desafios e oportunidades. Confira o papo na íntegra:

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Conteúdo produzido exclusivamente para a seção Sua História. Todas as informações foram fornecidas pelo entrevistado e não refletem a opinião de IstoÉ Publicações.