28/02/2024 - 13:00
Um dos grandes desafios das cidades brasileiras é a questão da segurança – o que tem levado a sociedade a não apenas exigir mais esforço por parte das autoridades, mas também medidas que previnam a ocorrência de crimes. De acordo com a edição de 2023 do estudo internacional Global Peace Index, o Brasil ocupa a 132ª posição em um ranking de 163 países elaborado de acordo com o grau de segurança de cada um; na América do Sul, fica atrás apenas da Venezuela e da Colômbia em termos de insegurança. Nesse sentido, o monitoramento por câmeras de vídeo tem se mostrado uma forma de inibir ou pelo menos registrar possíveis atos ilícitos; no entanto, sua eficácia é limitada pelo fato de apenas cobrir áreas específicas.
A fim de superar essa limitação, a Camerite, empresa fundada por Cristian Aquino, utiliza o conceito de malha de segurança para possibilitar uma cobertura maior e mais eficaz do sistema de monitoramento por câmeras. A ideia é que, aplicando-se esse conceito a bairros, por exemplo, se disponha de meios mais precisos para rastrear criminosos.
A Camerite surgiu em 2011, a partir do interesse de Aquino pela tecnologia – em especial a de vídeo. Com outros dois amigos, ele criou um sistema de monitoramento do tráfego urbano em alguns pontos da cidade em que viviam, Joinville (SC); as imagens eram transmitidas, em tempo real, em um site. “Sempre tive interesse por tecnologia, e quando eu tinha por volta de 22 anos tive a ideia de colocar câmeras ao vivo para transmitir o trânsito para as pessoas. Captei um pequeno investimento de R$ 10 mil com dois amigos para comprar quinze câmeras. Era uma iniciativa bastante inovadora na época – não havia algo semelhante aqui no Brasil, e nem programas como o Waze eram muito conhecidos na época”, lembra.
O site foi lançado em um domingo à noite, e no dia seguinte, pela manhã, já haviam sido registrados 30 mil acessos. Percebendo o potencial da ideia de colocar câmeras pela cidade, Aquino descobriu um nicho bastante lucrativo: instalar os equipamentos em outdoors publicitários, a fim de que fosse possível contabilizar quantos carros passavam naquele determinado trecho – o que impactava diretamente sobre o custo da publicidade. Ele entrou em contato com uma empresa que fazia esse cálculo por meio de pessoas que contavam in loco o número de veículos que trafegava nas proximidades dos outdoors.
“A ideia era filmar esses locais e contar os veículos. Na época eu ainda não sabia que algoritmo poderia utilizar para que se contasse o volume de veículos. Mas aceitei, desenvolvi um sistema de contagem e com isso foram colocadas 15 câmeras – dando origem ao site Veja ao Vivo”, conta Aquino.
Múltiplas aplicações
Nessa fase inicial da Camerite, Aquino notou que o interesse gerado pelas imagens das câmeras acabou revelando uma série de potenciais demandas de mercado. “Entravam em contato conosco pessoal solicitando auxílio para os mais diferentes assuntos – desde encontrar o animal de estimação perdido até elucidar roubos e assaltos. Começamos a ter muita visibilidade. Além disso, desenvolvemos um algoritmo que permitia uma imagem contínua – e não aqueles vídeos quadro-a-quadro, muito comuns nos equipamentos de vigilância por imagem da época. Tanto que as pessoas às vezes nem acreditavam que as imagens eram de fato ao vivo”, afirma.
Esse desenvolvimento levou um fundo de investimento a fazer um aporte na empresa – que já estava se voltando ao promissor mercado da segurança. E aconteceu o grande salto: em pouco tempo, a Camerite dispunha de cerca de 1.300 câmeras, instaladas em grandes cidades de todo o país. “Gerávamos uma audiência de quase 30 milhões de pessoas. Aí entrou o desafio de como monetizar isso; e vimos que o segmento de segurança seria um grande demandante desse serviço; afinal, vivemos em um país que sofre muito por questões de segurança. Todo dia recebíamos relatos de ocorrências”, relata.
Em 2016, uma situação inusitada chamou a atenção de Aquino para mais um potencial aberto pela tecnologia de monitoramento desenvolvida pela Camerite. “Uma situação que marcou bastante nossa equipe foi quando despencou o teto da Arena Corinthians, em São Paulo. Percebemos que instalar câmeras na frente de estádios de futebol gerava muita audiência – e nós tínhamos uma lá. Quando ocorreu o acidente, as grandes emissoras de televisão nos pediram as imagens; éramos os únicos a registrar o momento exato da queda.”
Malha de segurança
Ao abordar o mercado de segurança urbana, a Camerite optou por não atuar diretamente com a esfera pública, por conta de restrições dos investidores. Então, o modelo que a empresa colocou em prática foi o de cobrir regiões específicas com o apoio da comunidade local – convencendo os moradores de um bairro a instalarem câmeras em toda a região, é possível não apenas ter uma visão mais completa daquela área, como também inibir a ação de criminosos. “Essa foi nossa grande sacada: mostrar às comunidades que proteger o local onde moram é muito mais inteligente do que investir apenas na proteção de seu próprio domicílio ou estabelecimento. Afinal, não adianta uma padaria, por exemplo, ter uma série de câmeras e registrar um assalto se não for possível rastrear depois para onde o ladrão fugiu”, afirma.
Após criar essas malhas de câmeras, a Camerite aborda os órgãos de segurança, oferecendo o serviço para que seja utilizado em benefício das comunidades cobertas pelos equipamentos. “Esse conceito envolve uma certa mudança cultural – as pessoas são mais predispostas a defender a si próprias. Nosso papel é mostrar que uma cobertura mais ampla é mais eficiente – além de mais barata – para proteger determinado bairro ou comunidade E também oferecer uma solução altamente tecnológica, de forma que o resultado seja ainda mais benéfico para a população.”
Outro ponto ressaltado por Aquino é a utilização de tecnologia de inteligência artificial aplicada à malha de câmeras, aumentando assim a eficiência na resolução de ocorrências. Dessa forma, é possível processar um grande volume de dados em menos tempo. Além disso, o uso da IA possibilita um índice maior de confiança, uma vez que os algoritmos utilizados possuem capacidade de aprendizado – fazendo com que sua precisão se amplifique com o passar do tempo.
Outros usos
Aquino está atento a outras possibilidades abertas pela tecnologia de monitoramento da Camerite – que inclui prover câmeras para cidades inteligentes em atividades como o controle de semáforos, por exemplo. “Um dos algoritmos que utilizamos consegue rastrear veículos por tipo. Muitas vezes, em uma situação de ocorrência policial, não é possível saber qual é a placa do carro; mas se há informações sobre a sua marca e cor, podemos usar o algoritmo para rastrear veículos com essas características que tenham passado por nossas câmeras”, explica, acrescentando que há outros algoritmos específicos para outras funções – como controle de perímetro, por exemplo.
Atualmente a Camerite tem 35 mil câmeras conectadas em sua plataforma, e cerca de 200 franqueados em todo o Brasil. Segundo Aquino, dentro desses projetos foram registradas reduções expressivas da criminalidade – chegando a um recuo de 80% nos índices de roubos em algumas cidades. A empresa está focada na expansão no mercado brasileiro – apesar de estudar com atenção possibilidades futuras em outros países da América Latina que enfrentam desafios de segurança similares. “Como cidadãos, nossa missão é a de contribuir de alguma forma para aumentar o grau de segurança das pessoas, levar essa tranquilidade aos bairros.”
Em entrevista ao IstoÉ – Sua História, Cristian Aquino compartilhou a trajetória da Camerite. Confira o papo na íntegra:
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