Formada em Direito e exercendo a profissão de advogada, Luzia Duarte Frizzo encontrou na hipnoterapia não apenas uma atividade própria, mas uma forma de contribuir para a superação dos traumas de seus pacientes. Com um consultório em Toledo (PR), Luzia já atende a cerca de 500 pessoas nos três anos em que exerce essa atividade – e, ao mesmo tempo, continua atuando em um escritório de advocacia. 

Esta “mudança de chave” se deu a partir de uma experiência pessoal de Luzia, quando sua mãe faleceu. “Foi uma perda muito violenta para mim, que acabou me levando à depressão. E eu me recusava a procurar ajuda de um psiquiatra, pois aí eu teria de tomar medicamentos – e quem iria querer contratar uma advogada depressiva que toma medicamentos?”, relembra. 

Nesse período, ela experimentou um quadro de ansiedade generalizada, insônia e burnout. Até que um dia encontrou, em uma rede social, um hipnoterapeuta que havia curtido a foto de um amigo seu; e começou a segui-lo. “Eu comecei a assistir aos vídeos que ele postava, os depoimentos de seus pacientes, e fui me inteirando do que era a hipnoterapia.”

A essa altura, seu conhecimento sobre o tema já era o suficiente para indicar a prática a um cliente seu, que havia sofrido um sequestro e desenvolveu síndrome do pânico. Ele acabou não comparecendo à sessão, mas o hipnoterapeuta propôs a Luzia que ela fizesse uma consulta, já que a agenda estava com uma vaga. E ela foi. “Nesse momento, minha mente subconsciente gritava que eu precisava sair daquela situação em que eu me encontrava. Então aceitei – mesmo não sabendo exatamente o que iria encontrar. Não contei a ninguém que iria”, afirma.

Por meio de um transe induzido pelo hipnoterapeuta, Luzia pode reviver o passado e revisitar momentos da infância, encontrando uma memória de quando sentia que havia decepcionado sua mãe. “Foi assim que ele encontrou a causa dos meus problemas – e eu pude, naquele estado criado pela hipnoterapia, pedir perdão à minha mãe. Aquela memória era talvez o principal alimento da angústia que eu vivia, e a terapia a ressignificou”, explica. Quando saiu da sessão, Luzia sentia-se aliviada, e uma semana depois já estava livre da depressão. Foi então que decidiu aprender mais sobre a hipnoterapia – o que a levaria, mais à frente, a compartilhar seus conhecimentos com outras pessoas.

Tratamento das causas

Por meio de técnicas que estimulam a concentração e provocam o relaxamento nos pacientes, a hipnoterapia, ou hipnose clínica, é utilizada para o tratamento de problemas mentais e físicos, além de contribuir para mitigar ou eliminar sentimentos ou hábitos resultantes de traumas do passado. Com resultados rápidos e eficazes, essa prática se baseia em estudos sobre o desenvolvimento do cérebro e o comportamento do subconsciente, possibilitando que se aborde a causa dos transtornos. Desde 2018 a hipnoterapia integra a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) do Ministério da Saúde, sendo aplicada no Sistema Único de Saúde (SUS).

Luzia ressalta que, de forma geral, a hipnoterapia ainda é muito incompreendida, sendo usualmente colocada ao lado de terapias esotéricas ou espirituais. “Existem muitos mitos em torno da prática. As pessoas imaginam que seja uma forma de manipulação da mente, ou de mudar a personalidade de uma pessoa. Cheguei a receber um paciente de 17 anos com um quadro grave de depressão, que só pensava em morrer.  Ele decidiu que faria hipnoterapia, mas foi proibido de continuar o tratamento por razões religiosas. Até hoje ele continua com esse problema”, conta.

Ela salienta que, além de proporcionar a resolução dos problemas de forma rápida, eficaz e segura, a hipnoterapia oferece resultados realmente surpreendentes para os pacientes. “Todos nós vivenciamos bloqueios, medos, inseguranças, traumas e memórias antigas escondidas. No dia a dia, escolhemos as memórias que queremos preservar, e as demais ficam guardadas – principalmente as dores, que vão gerando efeitos ao longo da vida. Na hipnoterapia nós acessamos a mente subconsciente, encontramos a causa dos problemas e ressignificamos aquela memória – que deixa, assim, de ser o alimento da depressão, por exemplo”, esclarece. 

Aprendizado e prática

Quando Luzia decidiu se dedicar à hipnoterapia, buscou os melhores cursos disponíveis no Brasil e no exterior, e foi replicando a técnica com seus colegas e parentes. Nesse momento, sua intenção era apenas a de aprender mais sobre o tema. Quando passou a fazer aulas presenciais (que antes eram oferecidas de forma remota por conta da pandemia da Covid-19), já havia atendido a 53 pessoas – todas com resultados positivos. “Foi então que decidi atuar como hipnoterapeuta. Eu havia desenvolvido uma sensibilidade para usar a técnica, e seria egoísmo da minha parte não trabalhar com isso. Eu queria transformar vidas. Então montei um consultório e comecei a atender pacientes.”

De lá para cá, Luzia calcula ter atendido a cerca de 500 pessoas. “Tenho atendido clientes todos os dias – às vezes até três em um único dia! São pessoas do Brasil e de outros países – Austrália, Portugal, Estados Unidos, Itália… eu sou uma das primeiras hipnoterapeutas que começou a aplicar a técnica de maneira online, que proporciona resultados idênticos. O que basta é a pessoa querer passar pelo processo da hipnoterapia – do contrário, sua mente irá se bloquear”, pondera.

Ao mesmo tempo em que se dedica à hipnoterapia, Luzia continua atuando como advogada – embora talvez essa atividade seja no futuro deixada de lado. “É muito difícil se libertar de uma profissão; você cria um legado. Mas minha agenda não suporta mais. Ainda consigo atuar como advogada porque tenho dois sócios extremamente eficientes, que me dão todo o suporte de que eu preciso. Mas em um ou dois anos talvez seja o momento de encerrar minha carreira no Direito. A hipnoterapia é realmente um propósito de vida, do qual eu não consigo mais voltar atrás. “

Em entrevista ao IstoÉ – Sua História, Luzia detalha sua descoberta da hipnoterapia e sua decisão de atuar nessa área. Confira o papo na íntegra: