A recuperação judicial, um instrumento jurídico importante no universo empresarial, desempenha um papel imprescindível na preservação e reestruturação de empresas em dificuldades financeiras. Em meio a um cenário em que muitas companhias enfrentam desafios financeiros, a existência de consultorias que possam auxiliá-las no desafio da recuperação emerge como uma real necessidade, dada a complexidade do tema. É neste contexto que o trabalho de Pierre Rodrigues, fundador da Turn Assessoria Empresarial, ganhou destaque ao oferecer uma abordagem multidisciplinar na condução de processos de recuperação judicial. 

Contudo, antes de ser fundador da assessoria, o empresário acumulou uma série de experiências profissionais e pessoais que moldaram sua visão de mundo e habilidades. Nascido no bairro de Itaim Paulista, extremo leste de São Paulo, Pierre começou sua vida profissional cedo, quando ainda era adolescente. “Aos 14 anos, entrei em uma empresa do ramo de turismo, no que hoje chamamos de menor aprendiz. Na época, era menor patrulheiro. Então, eu atuei na área de turismo, tinha facilidade com os números, e decorar algumas coisas. Foi muito importante”, conta. Ao se mudar para um bairro periférico com a família, percebeu que o caminho do trabalho e educação seriam os únicos a trilhar para ter um futuro mais promissor. “Sempre me espelhei nos meus pais. Até por morar em uma região da periferia, acabamos nos deparando com diversas situações que são fora do cotidiano de uma pessoa normal, que são situações de roubo, de tráfico, de violência. Os meus pais sempre me direcionaram para a educação. Minha mãe sempre me cobrou muito sobre estudo, meu pai sempre na parte de trabalho”, diz. 

Aos 19 anos virou repositor do supermercado Atacadão, outra posição que o ajudou a desabrochar e a interagir em um ambiente de trabalho. “Você acaba aprendendo a lidar com o público. Eu era uma pessoa muito introvertida, não gostava de conversar com qualquer pessoa, e o trabalho acabou me direcionando a isso. Então, eu acabei sendo uma pessoa mais sociável”, detalha. “Era trabalho pesado, só que fui aprendendo muitas coisas, já que era curioso. Da onde vinha tal produto, eu lia o rótulo, via onde era fabricado. Só que para crescer dentro de uma empresa como o Atacadão, teria que ter uma universidade”, afirma. 

Apesar das dificuldades financeiras, ingressou na Universidade de Guarulhos para fazer Administração. “Por eu ter conseguido, após dois anos de loja, entrar na faculdade, fui promovido para o departamento de compras”, relembra. Devido a problemas de horário, Pierre teve que mudar de faculdade e se transferiu para a Cruzeiro do Sul, só que dessa vez em Ciências Contábeis. Essa guinada foi essencial para o novo caminho que o empresário trilhou. “Vejo hoje, olhando pra trás, que foi uma escolha excelente para mim, porque antes da faculdade de administração, eu não tinha uma visão do queria ser e não tinha condições de pagar o curso que eu queria, que era Direito, era muito caro na época”’, complementa. 

A partir desse curso, Pierre entrou para a área financeira, como estagiário. “Entrei para uma empresa chamada Santher, a Fábrica de papel Santa Therezinha. Fui efetivado em quatro meses, e com seis meses fui demitido em um programa de corte que teve na fábrica, e que foram demitidos 700 funcionários”, relata. Depois de outros estágios em empresas diversas, Pierre voltou para o setor de papel, desta vez na empresa KM Papel e Celulose. “Eu estava no meu último ano de faculdade, também em um cargo de analista financeiro, e aconteceu novamente um programa de corte”, revela. “Só que eu sempre tive muito planejamento financeiro. Com minha rescisão, paguei minha faculdade”, conta. 

Depois, em uma consultoria especializada em recuperação de empresas, Pierre teve contato com o setor de controladoria, onde permaneceu por três anos. “Só que, além de eu entrar como analista, me tornei coordenador da área de controladoria, e comecei a fazer muitas recuperações judiciais”, relembra. “Comecei então a ter algumas críticas sobre recuperação. Com o tempo, o aprendizado cria uma maturação e você começa a ter o senso crítico de saber se se esse caminho é bom, se esse caminho não é tão bom”, explica. Pierre quis se aprofundar ainda mais nos estudos e deu início a uma pós-graduação em Administração de Empresas pela PUC e posteriormente em um MBA em Controladoria, Finanças e Auditoria na Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Em  2011, recebeu um convite para trabalhar em Santa Catarina, em uma consultoria na qual se tornou sócio. “Lá, focamos muito na parte de reestruturação de empresas que passavam por dificuldades financeiras e que pode até chegar a uma situação de insolvência, e usava a recuperação judicial como uma ferramenta de reestruturação para tentar recuperar. Cheguei a fazer aproximadamente 85 recuperações judiciais de empresas pequenas, médias e grandes, tanto na parte de levantamento de passivos, renegociações, planos e apresentação de planos de recuperação judicial”, comenta. Depois de alguns anos nesse trabalho, Pierre começou a se sentir inquieto e quis desbravar o mundo do empreendedorismo. “Tudo bem ser sócio de uma consultoria, tudo bem ter uma participação dentro de uma empresa, só que a palavra final nunca seria minha”, frisa. 

Essa inquietação, somada à proximidade da chegada de sua filha, já que sua esposa estava grávida na época, o fez mudar os planos novamente. “Surgiu a oportunidade de abrir minha própria consultoria em São Paulo. Um cliente que estava conosco há algum tempo me fez uma proposta para assumir como consultor, e eu formei minha equipe”, conta. Dessa forma, surgiu a Turn Assessoria Empresarial, em 2014. Assim como muitas empresas que estão começando, o início foi turbulento, com muitos projetos iniciais não dando certo. “Muitas vezes, o cliente quer capital de giro. E eu não tinha muita experiência no mercado financeiro, então eu não conseguia alavancar recursos”, explana. “Muitos clientes não queriam reestruturar a empresa, queriam alguém para bancar sua operação financeira. Fui entendendo isso “, completa. 

Foco em criar diferencial

Com um mercado competitivo e com a crescente experiência como empreendedor, Pierre decidiu que não era preciso repetir os mesmos procedimentos dos lugares em que havia passado, e sim cultivar sua própria maneira de trabalhar. “Queria mudar um pouco a percepção de consultoria. Não é porque eu peguei uma empresa com dificuldade que eu tenho que direcioná-la para uma recuperação judicial, por exemplo. Eu posso trabalhar com outros mecanismos jurídicos para tentar segurar esse passivo e tentar reestruturar essa empresa. E começou a dar certo isso. Comecei a identificar algumas situações de oportunidades”, relata. A Turn começou a atender necessidades que ajudavam as empresas a se levantarem novamente, como sugerir mudanças na produção, por exemplo. “Eu tinha outros relacionamentos que conseguiam me trazer recursos de matérias primas, embalagens, e, no fim, ajudava na margem dos clientes. A consultoria começou a ser enxergada não como despesa, mas como investimento”, afirma. 

Também começaram a surgir clientes que queriam se livrar de suas empresas, e para Pierre, que já era considerado um grande especialista em recuperação, isso se mostrou como uma grande oportunidade. Ao assumir uma empresa de cosméticos que já tinha uma marca estabelecida no mercado, o empresário percebeu que oferecer o serviço de terceirização do departamento financeiro dessas empresas era um caminho valioso, e criou outra empresa, só para esse fim. “Eu brinco com todo mundo que pra ter um negócio, você não precisa ter dinheiro, você precisa ter a venda e precisa ter o crédito. Se você tiver a venda e tiver o crédito, você já tem o business. Sem colocar a mão em nada. Só lidando com os negócios”, explica. 

Atualmente, a Turn Assessoria Empresarial participa diretamente de onze empresas próprias, que juntas possuem em torno de 125 funcionários. A assessoria já atuou na recuperação de grandes marcas, como a Payot, empresa de cosméticos largamente conhecida no mercado brasileiro. “Entramos na Payot com um cenário de recuperação judicial, mas não foi preciso uma recuperação judicial. Foi preciso uma gestão muito forte, dolorosa, tanto para os colaboradores quanto para os empresários. Tivemos que fechar a fábrica da Payot e terceirizar toda a produção. Então foi muito doloroso”, diz. 

Além do trabalho em várias frentes para conduzir a empresa para dias melhores, um projeto foi responsável por auxiliar nessa retomada. “Em 2018 a diretora de marketing da Payot, a Flavia Montebeller, trouxe o Projeto Boca Rosa pra dentro da Payot, e a Payot não tinha um real. Lembro que foi preciso fazer uma captação”, conta. “Batemos em todos os fornecedores da Payot. A Flávia fez toda a parte de desenvolvimento. Deu super certo. De agosto de 2018 até ano passado, o faturamento da Payot multiplicou mais de 10 vezes por conta do Projeto Boca Rosa. Em dezembro de 2020, foi comunicado que nós já havíamos recuperado a empresa. Eu fiquei no conselho da Payot até março de 2021”, relata. Além da Payot, a Turn participou ativamente na recuperação de outras empresas de renome, como o refrigerante Dolly.  

Em conversa com o Istoé Sua História, Pierre fala mais sobre sua trajetória, dá mais detalhes dos cases de sucesso e fala sobre os planos para o futuro. Confira:

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