09/01/2024 - 19:28
A tecnologia na área da medicina andou a passos largos nos últimos anos, principalmente no que diz respeito à abrangência de atendimento, possibilitada pela maior adesão de consultas online e uso de ferramentas tecnológicas para diagnósticos. Luiz Fernando Donke, fundador da L2D Saúde Digital, sabia da possibilidade de essas ferramentas online serem uma revolução no atendimento médico desde a década passada, quando começou a se especializar na gestão hospitalar e sistemas de saúde. Mas, a paixão pelos segmentos de saúde e tecnologia começou muito antes da fundação da empresa.
Nascido na zona norte de São Paulo, o empresário teve uma juventude marcada pela inquietude e curiosidade. Filho de uma professora e um securitário, Luiz logo buscou ter seus próprios empreendimentos e, mesmo contra a vontade de seus pais, começou a trabalhar, aos 12 anos, em uma locadora de videogames. “Meu pai e minha mãe não queriam que eu fosse trabalhar naquela época. Achavam que eu era muito novo, que eu ainda tinha que estudar”, conta. Apesar da resistência inicial, os pais de Luiz autorizaram que o filho trabalhasse.
O contato com o público e a experiência em um pequeno negócio deram a Luiz as primeiras noções de empreendedorismo e resoluções de problemas, o que fez com que novas ideias surgissem. “Nessa mesma época, lembro que meus amigos tinham roupas de grife e, apesar de meus pais me darem coisas, não davam tudo que eu queria. Pedi para minha mãe para me colocar em um curso de silk screen, de estamparia, porque eu queria criar minha marca, e fazer algo parecido com marcas que existiam. Já que eu não podia comprar, quis criar a minha. Lembro até do nome, Lubas Surfwear”, rememora.
Alguns anos depois, com mais experiência adquirida, Luiz foi trabalhar em uma corretora de seguros como office boy, seu primeiro emprego de carteira assinada. “Lá, aprendi a conviver com vários tipos de pessoas, como o dono da corretora, outros office boys. Comecei a frequentar a galeria do rock e entender como as pessoas eram. Isso também me ajudou a respeitar as diferenças, quem era rockeiro, quem era office boy, quem era empresário. Isso foi muito importante para mim”, detalha.
Entrada na área de saúde
O trabalho na corretora de saúde foi sua entrada para o segmento. Ao lidar com as questões da área, Luiz se sentiu impelido a estudar mais a fundo e começou a investigar as possibilidades. “Me despertou uma vontade de entender o mercado de saúde. Será que só precisava ser médico para atuar? […] Nem sabia que existia faculdade de enfermagem naquela época”, explica. “Conheci outras profissões na área de saúde, como biomedicina. Eu não tinha noção de como funcionava a saúde”, explica.
Aos 16 anos, Luiz era muito jovem para ingressar na faculdade, portanto foi fazer a um curso de auxiliar de enfermagem, na esperança que o conhecimento adquirido aumentasse seu repertório na área. “Foi uma coisa totalmente diferente do meu mundo. Nessa época, eu estudava a noite e fui fazer o curso de dia. Então eu abri mão de trabalhar. E fui me dedicar a ter esse conhecimento”, diz. “As pessoas eram bem mais velhas que eu. Tudo era novo, aulas de anatomia, aprender sobre a relação com o paciente. Eu peguei o gosto. Acho que desde essa época gosto da questão de resolver problemas. Independente se são problemas de tecnologia, de seguro, de paciente”, conta.
Ao se formar no ensino médio, o empresário ingressou no curso superior de enfermagem, em São Paulo. Ainda no primeiro ano, virou monitor de anatomia da faculdade e posteriormente entrou para a turma de iniciação científica da Universidade de São Paulo (USP). Essa aproximação com a academia o fez se interessar ainda mais pelo aspecto teórico do segmento. Por isso mesmo, ao começar a estagiar em um hospital, começou a chamar a atenção por conta de sua habilidade com organização e aspectos mais gerenciais do ofício. “Consegui me destacar. Não pelo conhecimento, porque eu era um estagiário. Mas na parte de organização, no centro cirúrgico. Como eu vinha da corretora, trabalhei muito com a questão de gerenciamento. Sempre fui uma pessoa organizada”, revela. “Por conta da corretora, eu tinha essa particularidade, de separar notas fiscais, de fazer planilhas para tudo, eu tinha uma facilidade com a parte de documentos, materiais, controle, essas coisas todas”, diz.
No último ano da faculdade, Luiz estagiou em uma consultoria que atuava na construção de hospitais. “Aprendi muito com eles. Virei consultor júnior. Aí começou minha relação não só com o pessoal da empresa mas também com empreendedores, donos de hospitais e clínicas, e comecei a fazer esse network”, observa. Depois, incluiu em seu currículo cursos de gestão, custos hospitalares, auditoria de qualidade, entre outros. Já formado, foi atuar em um hospital que pertencia a uma rede de planos de saúde. “Em seis meses fui promovido para supervisor. A minha proposta de melhoria na parte de gestão funcionou super bem e eu acabei engatando uma pós-graduação em gestão e um MBA em gestão hospitalar e sistemas de saúde”, detalha.
A proximidade com o segmento de tecnologia o levou a estudar paralelamente o que havia de mais moderno disponível na época. “Entrei um pouco no mercado de diagnóstico por imagem para entender como funciona a tomografia, ultrassonografia, ressonância magnética, e esse mundo começou a me contaminar. Eu achava muito interessante um gestor trazer tecnologias para resolver problemas do dia a dia dos pacientes”, aponta. Ao entrar em contato com a telemedicina, na época chamada medicina digital, em meados dos anos 2004, Luiz sabia que isso poderia ser um grande diferencial no mercado. “Vi que aquilo era uma solução estratégica e importantíssima para o nosso país, por questões geográficas, culturais, financeiras, enfim. Mas não existia regulamentação, e vi que precisava me aperfeiçoar”, conta.
Ao atuar em parceria em uma empresa multinacional suíça da área de saúde, Luiz começou a levar para hospitais, planos de saúde e organizações sociais que terceirizam serviços públicos a proposta de implantar a saúde digital. “Quase ninguém falava sobre isso e existia uma crença de que isso não funcionava. E percebi que eu teria que colocar em prática”, conta. “Comecei a investir em equipamento próprios para para fazer um piloto e assim mostrar que funcionava”, diz.
Com o interesse crescente do mercado na solução, surgiu a necessidade de montar uma empresa de prestação de serviço que oferecesse os serviços feitos sob medida para cada cliente. Em 2015, surgiu então a L2D Saúde Digital. Ao se deparar com dificuldades em elaborar soluções específicas, como clientes que não tinham internet de banda larga, por exemplo, foi necessário ir além. “Me juntei com mais dois sócios na época, um advogado e um administrador, porque precisava do embasamento jurídico para criar a plataforma, ainda não tinha uma regulamentação”, explica. “O ano de 2016 é um marco pois a L2D sai de empresa de consultoria a prestadora de serviço e começamos a desenvolver uma plataforma própria”, diz
Com médicos próprios contratados e com total liberdade de customização da plataforma, era possível estabelecer uma metodologia de atendimento mais eficiente. “Além de consultas, começamos a ir para a área de telediagnóstico. Então, a parte de radiologia, por exemplo, começamos a desenvolver fortemente”, explica. Por conta de clientes adquiridos no sul e sudeste do país, a sede da empresa mudou para Balneário do Camboriú, em Santa Catarina. “Lá, também tínhamos maior facilidade de encontrar médicos jovens que eram mais permeáveis a usar a tecnologia”, explana.
Com o passar do tempo, a empresa expandiu-se para o Rio Grande do Sul e voltou a São Paulo, abrindo outra unidade na capital. A partir disso, o atendimento se tornou nacional. Atualmente, a empresa conta com três grandes pilares de serviço: a telessaúde, o telediagnóstico e o monitoramento e gestão de pacientes crônicos. “A telessaúde envolve toda a parte de consultas online, com todos os tipos de especialidades. Podemos customizar para qualquer tipo de atendimento de consultas online, temos parceria com diversas empresas de internet, de equipamentos de hardware, etc”, diz.
O telediagnóstico envolve os diagnósticos feitos por imagem, que facilita o acesso a exames em qualquer lugar do país. “Temos alguns contratos pelo Brasil inteiro na parte de radiologia, ressonâncias, tomografia. O tecnólogo faz o exame na ponta, o paciente pode estar no interior de Goiás, por exemplo, e a imagem vai para nossa plataforma, na qual o nosso médico em São Paulo irá olhar e emitir a lauda no mesmo momento”, explica. “Colocamos equipamento nessas cidades para diversos exames e realizamos o laudo ou até a consulta a distância. Isso facilita isso muito e aumenta a capilaridade de acesso ao serviço”, constata.
Já o gerenciamento de pacientes crônicos é focado em monitoramento da saúde como forma de prevenção e cuidados prévios. “Vamos citar o exemplo da diabetes. Hoje, o maior problema desses diabéticos é a falta de interação e a falta de adesão ao tratamento”, explica. ‘Um paciente mais grave pode receber um smartwatch no qual conseguimos controlar seus sinais vitais em tempo real. Temos uma central de enfermeiros e médicos 24 horas que vão monitorar se esse paciente tiver uma hiperglicemia, para a central entrar em contato e saber se está tudo bem”, detalha.
Para Luiz, o grande desafio da saúde no Brasil que pode ser auxiliado pela saúde digital é a questão do acesso. “A gente quer conectar todas as unidades de saúde e tentar, através dessa rede, distribuir essas soluções para melhorar o acesso. Acompanhamos os programas do governo, médicos tem que ser levados para todas as cidades. O grande desafio é a integração”, diz.
Em conversa exclusiva com o IstoÉ Sua História, Luiz fala sobre planos para o futuro, além de dar mais detalhes sobre o core business da L2D Saúde Digital e desafios do segmento. Confira:
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