Vendendo bala de coco e pão de mel aos 14 anos, foi assim que Lucas Corazza iniciou a sua jornada como confeiteiro. Essa foi a primeira saída criativa que ele arranjou para driblar a falta de suporte. Até mesmo a família rompeu laços com o chef de cozinha por um momento. O abandono e a violência fizeram parte de sua história desde o começo.

“Cortaram a mesada, cortaram tudo, todos os privilégios. E eu me lembro disso porque foi muito desesperador assistir isso de um lugar em que eu era o excluído, morando na mesma casa, e um irmão que ganhava tudo porque ele era hétero. E  isso vai se repetir por toda a minha vida. Foi muito louco porque ali em casa eu aprendi com o que a vida ia me dar”, diz Lucas.

Antes de brilhar profissionalmente no ramo da confeitaria, ele cursou hotelaria, mas não chegou a concluir a faculdade. Simultaneamente, ele se dedicou de corpo e alma à gastronomia. Apesar disso, sua primeira oportunidade no ramo transformou-se numa decepção. 

Após ter estudado por meses a dinâmica e a técnica de uma cozinha, foi substituído por uma pessoa que não tinha conhecimento nenhum. Isso se deveu a diferenças que Lucas define como sociais. Pesou contra também o preconceito que associa a confeitaria à feminilidade.

“Um chef não ia me promover porque eu não era amigo pessoal dele, eu não ia na mesma balada que ele, no jogo de futebol com ele. Meu convívio social estava em outro lugar, e usavam como desculpa ‘ah mas você é um confeiteiro’, mas eu estudei durante meses sobre a cozinha dele, isso era só desculpa”, relembra o chef.

Rompendo padrões, Lucas saiu do mundo dos restaurantes, e começou a trabalhar de casa, pelas “bordas”, como ele mesmo diz, sem CNPJ e com vendas na rua. “Eu levava pra esquina de um estacionamento, na rua Girassol na Vila Madalena, uns cavaletes de madeira, uns tecidos que eu comprei na Lapa pra cobrir a parede, pegava uns móveis de casa, fazia de três a quatro viagens dentro de um Fox, e eu montava uma mesa de doces, com todo um ambiente, flores, tecidos, mesa de madeira, louça, proporcionando uma mesa de festa, além dos melhores ingredientes. Era a experiência de melhor confeitaria só que na rua.”

Lucas criou uma ação de marketing sozinho: selecionou alguns jornais, anotou o nome de alguns jornalistas que cobriam a área, pegou o endereço das redações, ia de ônibus até esses locais e levava uma caixinha de doces para ser entregue aos jornalistas. Na maioria das vezes, o retorno que ele obteve foi apenas uma mensagem de agradecimento, nenhuma publicação. 

“‘Ah você não tem CNPJ, não tem onde te visitar’. Eu sabia de tudo isso, o que eu queria era romper o sistema, mas ninguém queria me ajudar, mas aí eu pensei ‘o que eu posso fazer de diferente?’, e comecei a analisar tudo o que eu tinha feito.” 

Então Corazza chegou a conclusão que precisava criar um vínculo com jornalistas. Preparou uma torta brulée de fubá com goiabada, foi até o prédio da Folha de S.Paulo e pediu para entregar a iguaria para o jornalista Marcelo Katsuki. 

“A recepção falou que, tudo bem, eles entregavam, e eu respondi que precisava ser entregue em mãos, pois era perecível. Tive essa sacada ao notar que na recepção não tinha geladeira” E foi assim que Lucas Corazza conseguiu sua primeira matéria em um veículo da grande imprensa. 

Mudanças e novas experiências não metem medo em Corazza. Ele começou como um bom cozinheiro, passou para um excelente profissional no ramo da confeitaria, vem contribuindo para a educação do Brasil há 15 anos, dando aula no curso de pós graduação no SENAC, e acabou chegando à TV. Faz história há 10 anos no programa “Que Seja Doce”.

Jurado de dois realities shows de confeitaria no Brasil, observador, ousado, técnico, nerd, estudioso e sensível, o chef ganhou duas vezes o Prêmio Prazeres da Mesa de confeitaria, trabalhando de casa.

Como professor, Corazza já deu aula em vários estados do Brasil. Conheceu carências, acompanhou a falta de acesso a ingredientes frescos e assim compreendeu a maneira certa de analisar todos os doces que já passaram pela sua degustação durante a carreira.

“O que é uma experiência com a comida é subjetivo. Eu vi o que é uma pessoa que não tem acesso a ingredientes frescos no interior do Amazonas, eu vi o que é uma mulher fazendo doces em Macaé, eu comi brigadeiros em Boipeba, eu sei quem tem acesso. Não é toda região que tem acesso a todas as frutas brasileiras. Então pensei no que eu poderia oferecer de maneira generosa, para aquela pessoa que estava indo ao programa e poderia ser de qualquer lugar do Brasil.”

Depois de tantas experiências com a confeitaria, dentro e fora do reality show, na 5º temporada do “Que Seja Doce”, depois de quase 300 doces ter passado pela mesa do chef, ele conseguiu entender uma coisa: o que para ele definiria um doce bom.

“Eu entendi que um doce bom ele me trazia pro presente assim que entrava na minha boca, tenho uma cena bem visual assim que eu me fechava do resto, por alguns segundos eu tinha a possibilidade de não criticar, mas de vivenciar a experiência do que estava ali.”

Corazza define o doce com uma magia, aquilo que todos têm vontade de repetir. Ao olhar um bolo na mesa da cozinha, você sabe que vai chegar uma visita. Ao comer um bolo de aniversário, a música do DJ vai aumentando a cada mordida. 

A ciência mostra que as regiões da língua são capazes de detectar cinco sabores básicos: doce, salgado, azedo, amargo e umami (realçador de sabor). Chef de cozinha, professor, viajante, jurado e influenciador, Lucas Corazza construiu sua trajetória profissional com base no sabor que faz bem ao paladar e à alma.

Passados os anos, o preconceito e a falta de apoio durante a adolescência ficaram para trás. Corazza chegou ao estrelato resgatando de volta o amor, o acolhimento e a aceitação da própria família. O caminho ficou ainda mais aberto para ele exercitar o seu talento e nos deliciar.

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